Guerra na Ucrânia

Ucrânia: Putin quer o Donbass, nem que seja 'pela força'

Em visita à Índia, presidente da Rússia reafirma que conquistará os territórios invadidos em 2022, ainda que seja necessário continuar com o avanço de suas tropas pela Ucrânia. Nos EUA, negociador ucraniano reúne-se com os emissários de Donald Trump que mantiveram negociações com Vladimir Putin no Kremlin

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, reiterou nesta quarta-feira (4/12) a determinação de conquistar completamente a região ucraniana do Donbass, seja "pela força militar" ou pela retirada voluntária das forças ucranianas. A declaração, feita durante visita à Índia, precedeu o encontro, nos EUA, entre uma delegação da Ucrânia e os emissários norte-americanos que se reuniram na véspera com Putin, no Kremlin.

Durante entrevista ao jornal India Today, antes de ser recebido pelo primeiro-ministro Narendra Modi, o líder russo afiançou a decisão de "liberar o Donbass e a Nova Rússia". O território mencionado abrange as províncias de Donetsk e Lugansk, controladas em grande parte por Moscou — mas não completamente —, e as de Kherson e Zaporizhia, sob ofensiva. Em seguida à invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022, Putin formalizou a anexação das áreas, sem reconhecimento internacional.

Na chegada a Nova Délhi, o presidente russo reconheceu que as negociações em torno do conflito, mediadas por Washington com interferência direta de Donald Trump, são "complexas" e representam para a Casa Branca "uma missão difícil". "Alcançar o consenso entre as partes em conflito não é uma tarefa fácil, mas acredito que o presidente Trump está tentando sinceramente", acrescentou. "Acho que devemos participar desse esforço, em vez de obstruir."

O enviado especial dos EUA para a Ucrânia, Steve Witkoff, e o genro do presidente, Jared Kushner, reuniram-se ontem na Flórida com o principal negociador ucraniano, Rustem Umerov, para relatar os resultados do encontro da última terça-feira, em Moscou. Como gesto de boa vontade, o Departamento do Tesouro suspendeu até o fim de abril um pacote de sanções imposto à petroleira russa Lukoil.

Em uma apreciação inicial, Trump considerou os resultados da visita "muito bons", embora ambas as partes tenham admitido que não concluíram "nenhum compromisso" para a paz. "A impressão deles foi de que (Putin) gostaria de que a guerra terminasse", disse à imprensa. O lado russo deixou clara a rejeição a "alguns pontos inaceitáveis" do plano, costurado inicialmente entre Washington e Moscou, e depois emendado para contemplar queixas da Ucrânia e dos aliados europeus — mas ressalvou que a proposta não foi recusada totalmente.

O texto original prevê que a Ucrânia ceda as porções de território reivindicadas pela Rússia, mas não conquistadas militarmente após quase quatro anos de guerra. Em troca, define garantias de segurança para o governo de Kiev, mas não atende à reivindicação de ingresso pleno na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), objetivo declarado do presidente Volodymyr Zelensky e um dos motivos alegados pelo Kremlin para a invasão.

Fissuras

A iniciativa diplomática de Donald Trump vem abrindo fissuras com os aliados europeus da Otan, como evidenciou ontem a revista alemã Der Spiegel. Com base na transcrição confidencial de uma teleconferência entre governantes europeus, à qual seu site teve acesso, a publicação revela que o chanceler (chefe de governo) Friedrich Merz teria aconselhado Zelensky a "tomar muito cuidado" com as articulações entre a Casa Branca e o Kremlin: "Eles estão fazendo joguinhos com vocês (ucranianos) e conosco (europeus)".

De acordo com a Spiegel, o presidente da França, Emmanuel Macron, teria sido até mais direto e sugerido que os EUA poderiam "trair a Ucrânia na questão territorial sem garantias claras de segurança". Questionado pela revista, o Palácio do Eliseu se recusou a informar sobre o conteúdo das conversações, em nome da confidencialidade, mas assegurou que "o presidente não se expressou nesses termos". 

Encontro entre amigos na Índia

Um abraço caloroso do anfitrião, o premiê Narendra Modi, marcou nesta quinta-fera (4/12) o desembarque do presidente Vladimir Putin em Nova Délhi, marco destacado por ambos os lados na retomada da relação bilateral histórica entre Rússia e Índia. Os dois se deslocaram de carro desde a base aérea de Palam e iniciaram com um jantar de gala a programação oficial da visita de dois dias. Na sexta-feira (5/12) teriam reunião na qual o tema central seria a cooperação na área de defesa. A Índia é um dos principais importadores de armas, e a Rússia, uma fornecedora tradicional. A aproximação coincide com a imposição, por Donald Trump, de uma sobretaxa de 50% sobre a importação de produtos indianos, como represália pela compra de petróleo russo. Embora aliado dos EUA, Modi até aqui se recusa a suspender as transações com Moscou.

 

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