Um presidente fake

Ana Dubeux
postado em 09/01/2021 21:43 / atualizado em 10/01/2021 10:36
 (crédito: MANDEL NGAN / AFP)
(crédito: MANDEL NGAN / AFP)

Nem a morte, nem a democracia aceitam deboche. A prova mais recente disso foi a derrota de Donald Trump, que criou um personagem de si mesmo digno da repugnância mundial. O jeito Trump de fazer política e de governar chegou ao fim de forma melancólica. Ao estimular, via redes sociais, a invasão do Capitólio por bárbaros reacionários, o caricato aprendiz de político sujou de lama fétida o restinho do mandato.

Trump escreveu seu lugar na história como o pior presidente da maior nação do mundo. Com ele, entra em xeque o modelo populista sustentado na produção em série de fake news e de mentiras diárias, que parece já não fazer o mesmo efeito nos tempos atuais. Elegeu-se idiotas pelo mundo todo, agora parece que começa a ter seus dias contados. Melhor assim.

A base de sustentação do trumpismo e de seus seguidores odiosos foi atropelada pela verdade, pela realidade. O velho ditado, segundo o qual uma mentira contada mil vezes pode virar verdade, não se sustentará por muito tempo. Sobretudo diante de uma pandemia, uma guerra sanitária sem precedentes, que acabou por implodir de vez o método torpe que usou para se eleger e para governar.

O deboche em torno da morte de milhares de cidadãos, o escárnio contra o esforço fenomenal de cientistas do mundo inteiro, somados a uma coleção de idiotices ventiladas nas redes sociais, levaram Trump a antecipar seu declínio, que em algum momento viria por incompetência. Entregar novamente o voto, a grande moeda da democracia, algo tão caro aos americanos, a uma criatura egoísta com incontinência verbal seria uma aposta arriscada demais, que a maioria dos cidadãos não aceitou pagar. Banido do Twitter — rede que o ajudou a se eleger —, Trump caminha para o ocaso. A era de terrorismo virtual na Casa Branca chegou ao fim.

Relegar vidas humanas a uma condição de importância subalterna, diminuir o extremo valor da ciência, disseminar mentiras e o ódio às instituições, entre elas a imprensa, assim como ignorar a necessidade da vacinação como estratégia para conter a pandemia, são atitudes que levaram Trump e levarão outros governantes a pique.

Um país não é uma mesa de bar e um povo não é uma massa única e amorfa moldada por mentiras e fake news. Frases de efeito e piadas ridículas não sustentam mais de um mandato. Até os atores políticos cansam do jogo e se ressentem de tamanha mediocridade. Talvez por isso o próximo confinamento poderá ser o dos ditadores, que vêm provando a própria incompetência e nada além disso. A guerra de guerrilha dos ditadores digitais tende a ruir exatamente como começou: velozmente. Milhões de likes viram pó em segundos.

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