Setembro virou uma espécie de data cabalística para a volta de eventos com a presença de público no Brasil. Em Brasília, o governo federal planeja realizar o tradicional desfile militar da Independência para 20 mil pessoas espalhadas pela arquibancada. Nos campos de futebol, a CBF pretende o retorno gradual da torcida aos estádios. Tudo vai depender da situação da pandemia do novo coronavírus no Brasil.
Pelo cenário atual, considero temerário, afinal a ciência é categórica em afirmar que o momento não é propício para o estímulo de aglomerações. O país está num platô alto de casos e mortes diárias. É, no mínimo, o dobro do registrado nos picos de 2020. Se no ano passado não teve torcida nos estádios nem a parada militar, por que agora há esse açodamento?
É preciso estar no radar a possibilidade de agravamento do cenário atual. Vejam o último boletim epidemiológico disponibilizado pela Fiocruz. Os indicadores apontam para a intensificação da pandemia nas próximas semanas. A maioria dos estados registrou uma maior quantidade de casos desde o Dia das Mães. Como tem sido praxe desde o início da pandemia, o aumento das infecções costuma ser seguido, em média duas semanas depois, por um repique no número de mortes. Não se trata de terrorismo, mas, sim, do que nos revelam as estatísticas. E devemos estar cientes disso.
Nas últimas semanas, temos visto o presidente Jair Bolsonaro participar de manifestações. O direito de ir às ruas protestar ou demonstrar apoio à determinada causa é livre. Se os interessados estão dispostos a participar de aglomerações durante a pandemia, o risco é todo deles. No entanto, considero diferente o Estado ou entidade privadas, como a CBF, promoverem eventos com a presença de público sem aval da ciência ou baseados em indicadores mínimos, como taxa de transmissão do vírus, ocupação de UTIs e índice da vacinação no país.
Todos estamos exaustos. Há um nítido esgotamento provocado pelo isolamento social. Tudo indica que a maior parte da população adulta no Brasil vai tomar a primeira dose da vacina no terceiro trimestre deste ano. Além disso, há a segunda picada e o tempo necessário para a janela de imunização. Só depois disso imagino que poderemos voltar a participar de reuniões sociais e de eventos públicos com segurança. Antes disso, nem pensar.
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