Não é um tempo fácil para se expressar. Mas é um bom tempo para aprender. Digo isso porque, desde que as redes sociais tornaram-se o principal meio de disseminação de conteúdo, seja ele qual for, muitas pessoas também decidiram ser porta-vozes de todo e qualquer tipo de informação, muitas vezes sem diferenciar opinião de fato; verdade de mentira; conhecimento de achismo. Ainda assim, por meio das redes, temos acesso a inúmeros especialistas em assuntos diversos que nos permitem sair da ignorância — embora muitos decidam perpetuá-la. É uma questão de escolha. Nem sempre consciente.
Temos visto toda sorte de absurdos e também de lições relevantes. A cultura do cancelamento; os ataques absurdos contra jornalistas, em especial mulheres; a perseguição contra minorias e contra aqueles que fazem uma oposição consistente a este governo; a disseminação de fake news relacionadas à covid-19, campanhas difamatórias e levianas são alguns dos efeitos colaterais dessa forma de comunicação hoje preponderante. É preciso, por exemplo, isolar o conceito de liberdade de expressão, protegê-lo de comparações absurdas, que iguala uma premissa democrática a verborragia criminosa, preconceito e incitação à violência contra minorias.
A recente discussão sobre neutralidade e omissão é importante. É preciso se posicionar sempre? Um artista é obrigado a se posicionar politicamente? Omitir-se é também uma forma de posicionamento? Quem deve e quando deve usar a sua palavra, se está numa posição de influência e/ou poder? Há respostas de todo tipo para essas questões.
Uma coisa eu arrisco dizer: se vai falar, seja para defender sua neutralidade ou para escancarar suas posições, saiba exatamente o que está falando e de “onde” está falando. Se vive numa condição de privilégio e é de lá que vai desfiar suas teses, com base apenas em suas convicções formadas até aqui, cuidado. Não apenas para não ser cancelado, pisoteado ou virar uma vítima das próprias palavras. Mas para não perpetuar injustiças e reforçar preconceitos.
O que temos descoberto ultimamente, muitos de nós tardiamente, é que sabemos bem pouco, não importa quantos anos nos debruçamos sobre livros ou passamos nos bancos de faculdade. O grau de instrução não nos torna sabedores de tudo. Os cargos que ocupamos normalmente nos ensinam muito pouco sobre a vida, sobre a humanidade e sobre tantas coisas mais.
Ao longo dos anos, em alguma medida, todos nós andamos por aí repetindo piadas de mau gosto, usando expressões machistas e racistas, sem nem sequer nos darmos conta. É responsabilidade de cada um de nós escolher boas fontes de informação, estudar o que não sabemos e não sair reproduzindo o que ouvimos por aí.
O acesso à informação de verdade também é farto. A ciência dá os caminhos. Muitos formadores de opinião gabaritados em temas importantes estão contribuindo para o debate público e deixando materiais disponíveis. Vamos perceber o óbvio: precisamos ser reeducados para a igualdade, para a humanidade, para a cidadania.
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