Desde 1960

Visto, lido e ouvido — O dragão de Pan Ku

Desde 1960 Circe Cunha (interina) // circecunha.df@dabr.com.br
postado em 21/07/2021 06:00 / atualizado em 21/07/2021 08:33
 (crédito: GETTY IMAGES )
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Das inúmeras heranças amaldiçoadas, legadas pelos destrambelhados governos petistas, nenhuma outra tem sido mais deletéria e nefasta ao nosso país quanto aquela que reconheceria, pelos enviesados e vazios caminhos da ideologia, o status da China como economia de mercado. Com isso, de uma penada, em novembro de 2004, o governo empurrou, de uma só vez, e sem qualquer estudo preliminar de risco, todos os setores da economia interna brasileira para o campo minado do comércio chinês, controlado, de modo camuflado e estratégico pelo partido comunista daquele país.

De lá para cá, o que se viu e se vê por toda parte foi a invasão avassaladora dos produtos chineses, de duvidosa qualidade, em toda a cadeia produtiva do país, com prejuízos seríssimos, não só às indústrias nacionais, mas a todo processo de produção, que, da noite para o dia, parece ter recuado aos tempos da total dependência externa. Não seria exagero considerar hoje que nosso país passou a integrar, juntamente com outras nações financeiramente quebradas do Ocidente a grande carteira de investimentos da China. Existe, inclusive, quem prefira falar num restabelecimento de uma espécie de neocolonialismo, em que o governo central da China passa a explorar, de modo cabal, o que seriam suas novas colônias no Ocidente.

Foi dito aqui que por trás dessa estratégia mista entre economia e política expansionista está o fato de a China ligar pouco para investimentos tradicionais, preferindo a compra pura e simples de alguns setores importantes das economias dos países. Assim, eles preferem assumir o controle acionário ou, mais diretamente, todas aquelas áreas ligadas aos bens de produção, indo, também, com grande sede ao pote, aos setores de infraestrutura dos países, em que o poder de barganha e pressão é muito maior, e onde os limites para os lucros simplesmente não existem.

Nesse capítulo, os grandes empresários chineses, pretensamente donos das grandes empresas privadas, funcionariam como testas de ferro dos dirigentes do Partido Comunista Chinês (PCC), numa pantomima que os igualaria aos empresários do Ocidente. Tão logo demonstrem alguma independência ou sinal de rebelião, são prontamente postos de lado, acusados de corrupção e crimes financeiros, desaparecendo de cena e sendo, imediatamente, substituídos por outro personagem.

De fato, absolutamente nenhuma empresa chinesa, seja de que setor for, está livre da influência pesada do governo daquele país, devendo todo o esforço econômico, de qualquer setor, ser orientado segundo objetivos traçados pelos dirigentes partidários. Essa é, na visão dos economistas, o mais definitivo e acabado conceito de capitalismo estatal, onde todo o potencial da economia é voltado para objetivos estratégicos de dominação expansionista.

De acordo com dados fornecidos pelo próprio Ministério das Relações Exteriores, entre 2003 e 2019, os chineses ingressaram no Brasil mais de US$ 72 bilhões, ou seja, 37,3% do total investido por outros grupos estrangeiros. Ao contrário de outros países investidores, os chineses preferem comprar participação em setores inteiros da economia, seja na área do pré-sal, nas hidrelétricas, no que for, que possa garantir domínio e poder de pressão. É desse modo que se age e é assim que se garante sua aceitação na Organização Mundial do Comércio (OMC) como economia de mercado.

Trata-se, no jargão popular, de “um jogo bruto”, com visão de médio e longo prazos e que pode ser resumido na palavra domínio. Ainda é incerto se a disseminação do vírus da covid-19 pelo mundo fazia parte dessa grande estratégia de hegemonia e dominação, mas, em todo caso, é fato que, com isso, as economias de todo o mundo, ao contrário da chinesa, foram à bancarrota e tornaram-se mais vulneráveis ainda e sujeitas à pressão do dragão chinês.

 

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