Visão do Correio

Desigualdade persistente

Correio Braziliense
postado em 04/12/2021 06:00

Pelo menos 12 milhões de brasileiros amargaram a extrema pobreza e mais de 50 milhões, a pobreza, no ano passado, segundo estudo divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os primeiros, com renda inferior a R$ 155 por mês, ou R$ 5,16 por dia, e o segundo grupo, com R$ 450 mensais ou R$ 15 por dia. Apesar de o dado ser uma tragédia para o país, a pesquisa revelou que houve queda tanto da miséria, de 6,8% para 5,7%, quanto da pobreza, de 25,9% para 24,1%, na comparação com 2019.

O estudo mostra ainda que crianças com até 14 anos foram as mais afetadas pela extrema pobreza (8,9%) e pela pobreza (38,6%). Em desvantagem semelhante estavam as mulheres negras (pretas ou pardas): 31,9% na pobreza e 7,5%, na extrema pobreza. A analista do IBGE Bárbara Cobo destaca que o levantamento se refere à pobreza monetária, "sem considerar outras dimensões, como o acesso à educação, à saúde e à moradia adequada".

O Nordeste abriga 27,1% da população brasileira, mas é o primeiro no ranking regional de miséria, com quase metade dos nordestinos (49,4%) nessa situação e 45,5% de pessoas na pobreza, embora tenha havido diminuição em relação ao ano anterior. Na Região Norte, também houve queda nos índices de extrema pobreza, de 11,9% para 8,5%. No Sudeste, o índice ficou praticamente estável (de 3,3% para 3,6%), assim como no Centro-Oeste, de 2,8% para 2,9%. O Sul seguiu tendência inversa e registrou aumento de 2,3% para 2,8%.

A pesquisa reconhece que, não fosse o auxílio emergencial, decorrente da pandemia do novo coronavírus, o quadro seria ainda mais negativo: a proporção de pessoas em extrema pobreza teria aumentado de 5,7% para 12,9% e, em situação de pobreza, de 25,9% para 32,1%. Inegável, portanto, o impacto da crise sanitária em todos os setores, sobretudo na economia, deixando um rastro de destruição no planeta.

Mas há de se convir que ocorrem falhas nas políticas públicas, nos campos social e econômico. E, embora tenham enorme potencial para romper com as desigualdades, os sucessivos governantes brasileiros chegam ao poder sem um projeto de nação, capaz de romper com um círculo histórico, que impõe condições desumanas à parcela expressiva da sociedade. Reformas estruturais em todos os campos, a começar pelo da educação, passando pelas políticas tributárias até a organização do Estado, são postergadas.

Há semanas o Congresso debate o Auxílio Brasil. Interesses alheios aos dos que padecem na miséria se sobrepõem à dura realidade dos brasileiros. Os debates postergam uma decisão que poderia, longe de resolver, pelo menos amenizar o drama do desemprego e da fome.

Inconcebível que a fome seja realidade para mais de 19 milhões de pessoas em um país considerado celeiro mundial, e que tem a agropecuária como um dos pilares do Produto Interno Bruto (PIB). A negligência da classe política favorece a concentração de renda, o que concreta as iniquidades socioeconômicas históricas e apequena o país diante das demais nações.

 


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