Opinião

Irlam Rocha: 'adorável casal'

Quando, em julho de 1986, tive às mãos o Dois, segundo LP da Legião Urbana, lançado pela EMI-Odeon, imediatamente quis ouvi-lo no meu velho aparelho de som. Numa primeira audição das 13 faixas, duas logo me chamaram a atenção, Eduardo e Mônica e Índios, por não possuírem refrão e pelas longas letras com mensagens amorosas. O bolachão trazia também Tempo perdido (que se tornaria um clássico) e Acrilic on canvas, Central do Brasil e Daniel na cova dos leões, candidatas a Lado B — como viria a se confirmar.

Índios, que remetia à "tchurma" como Renato Russo, o criador, líder e principal compositor da Legião, se referia ao fechado círculo de amigos, se tornou um hit instantâneo, até por ser escolhida pela gravadora para ser a "música de trabalho" nas emissoras de rádio. Mas foi Eduardo e Mônica que caiu no gosto dos fãs. Nos shows da turnê de lançamento do Dois que a banda fez em 17 e 18 de dezembro daquele ano, na Sala Villa-Lobos, e 21 no Ginásio Nilson Nelson, o público — formado predominantemente por jovens — fez entusiasmado coro para acompanhar o vocalista na canção.

Em entrevista que me concedeu, na cobertura do Hotel San Marco, um dia antes da apresentação no ginásio de esportes, ao falar sobre Eduardo e Mônica, Renato se ateve à letra, que narra a história de um "casal improvável", formado por um garoto "gente boa e sonhador" e uma mulher mais velha, "liberada e libertária". Ele via na relação afetiva que descreveu, um possível roteiro cinematográfico.

Fã da Legião e atento ao legado de Renato Russo, Renê Sampaio — anteriormente, ele havia dirigido Faroeste caboclo — três décadas depois levou para a tela o filme inspirado naquele inusitado par que, com a devida licença poética, tem, predominantemente, a Brasília oitentista como cenário. Eduardo & Mônica, protagonizado por Gabriel Leone e Alice Braga, responsáveis por brilhantes performances, emocionou os espectadores que estiveram na pré-estreia, no dia 14 último, em três salas de exibição do ParkShopping. Quem for assistir ao filme, que entra em cartaz em 6 de janeiro próximo, certamente viverá sentimento semelhante, ao se deparar com a história de amor — nada convencional — desses adoráveis personagens.

 

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