Quando se fala de Legião Urbana logo vem à mente de todos os nomes de Renato Russo, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, os músicos que gravaram todos os discos da banda. Caíram no esquecimento de muitos, o baixista Renato Rocha, o Negrete, e principalmente Kadu Lambach, o Paraná, primeiro guitarrista do grupo.
O resgate histórico sobre os primórdios da Legião, relacionados mais especificamente a Lambach, é o que propõe Música urbana — O início de uma Legião, livro de André Molina, recém-lançado nas plataformas digitais e em formato físico, com prefácio de Carmem Manfredini, irmã de Renato Russo, cuja morte completou 25 anos, no último dia 11.
No livro, a partir de depoimentos do músico, compositor e arranjador paranaense, é contada sua trajetória artística, desde quando, pré-adolescente, veio morar com a família em Brasília, no final da década de 1970. Aqui, fez muitos amigos, principalmente no Colégio Marista, onde estudou, entre eles Dinho Ouro Preto, que se tornaria depois vocalista do Capital Inicial.
Antes de se juntar a Renato Russo, Marcelo Bonfá e do tecladista Paulo Paulista na Legião Urbana, logo depois do fim do Aborto Elétrico, Lambach, demonstrando abertura para diferentes sonoridades ouvia, em fitas cassete, o rock dos Rolling Stones, Black Sabbath e Queen, o pop de Guilherme Arantes e 14 Bis, além da MPB de Vinicius de Moraes e Toquinho.
Foi depois de ouvi-lo tocar no grupo instrumental Boca Seca, que Renato Russo o convidou a se juntar à Legião, em 1982. A curta permanência de Lambach na banda é atribuída ao fato de, por possuir uma boa formação musical, não ter se adaptado à estética proposta pelo punk rock, identificada pela utilização de três acordes.
"Quem um dia irá dizer que Kadu (apelido dado a ele no período em que morou em Brasília) faria parte da maior banda de rock do nosso país? Fui proibida pelo Renato de fazer amizade com o menino bonito de franjinha lisa. Ele me privou também da convivência com a 'tchurma' da Colina. Irmão autoritário e protetor", lembra Carmen Teresa Manfredini, no prefácio do livro.
"O talento de Kadu era e ainda é muito mais do que os três acordes proposto pela estética punk. Neste livro, ele conta parte dessa trajetória, a de sua entrada como primeiro guitarrista da Legião Urbana, marcando seu nome na história do rock nacional. Ele não possui somente a técnica aprimorada ao tocar, mas igualmente, sensibilidade e conhecimento, ao se enveredar por diversos estilos e caminhos musicais", acrescenta Carmem Teresa.
Após deixar a Legião, o guitarrista acompanhou Belchior, Baby do Brasil e Olívia Hime, entre outros; tocou com o grupo de jazz Aria Tribo; e chegou a gravar com o lendário baixista norte-americano Stanley Clarke, além de lançar o bem avaliado LP Last blues — na década de 1990.
No Música urbana — O início de uma Legião há, ainda, o registro de documentos que Kadu Lambach guardou consigo, ao deixar a Legião Urbana, entre os quais o projeto de banda escrito em tom poético por Renato Russo; além de letra inédita do compositor, intitulado Dois corações.
Musicada pelo guitarrista, que a gravou, Dois corações resultou de uma reportagem sobre a venda de carne clandestina, em Ceilândia, na época em que Renato, estudante de comunicação do Ceub, estagiou no Ministério da Agricultura. Um dos versos da letra diz: "Eu quero sua carne/ Qual é o seu preço/ Eu quero também o seu endereço".
O músico mantém-se em plena atividade em Curitiba, onde voltou a morar há algum tempo. Além de continuar compondo e desenvolvendo projetos, tem feito apresentações tocando blues, jazz e pop rock. Para 2022, quando completa 40 anos da criação da banda que ajudou a formar, ele anuncia turnê nacional — que vai passar por Brasília — com o show Kadu Lambach — Origem Legião.
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