Visão do Correio

O risco de um novo desastre

Correio Braziliense
postado em 08/01/2022 06:00

As perspectivas, que já não eram boas para 2022, estão se deteriorando ainda mais diante da nova onda de covid, agora agravada pela variante ômicron. No mundo, os casos de infecção pelo vírus se multiplicam de forma nunca vista desde o início da pandemia, pressionando os sistemas de saúde público e privado. Havia um certo desleixo dos governos em relação à força da nova cepa. Mesmo não sendo tão letal, a velocidade com que ela se propaga indica que tempos difíceis estão por vir.

No Brasil, o quadro tende a ser ainda mais desolador, a depender da insistente postura negacionista do presidente da República, Jair Bolsonaro, e do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. As recentes declarações de ambos em relação à vacinação de crianças de 5 a 11 anos contra a covid-19 indicam que pouco estão se importando com a avalanche que abate o país, numa onda que, além do coronavírus, traz o vírus da gripe.

Em todas as capitais, os registros de síndromes respiratórias agudas graves em hospitais e postos médicos mais do que dobraram nos últimos 15 dias, reflexo das festas de fim de ano e das medidas de relaxamento tomadas, apressadamente, por estados e municípios. A situação só não é pior porque a maioria dos brasileiros optou pela vacinação, a despeito dos constantes ataques do presidente à imunização e de notícias falsas espalhadas em série por apoiadores do governo.

A nova onda da covid e de gripe não só coloca em risco a vida de brasileiros como restringe qualquer possibilidade de reação da atividade econômica. Na quinta-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou que a produção industrial, um dos motores da atividade, registrou, em novembro do ano passado, o sexto tombo seguido. Esperava-se que, às vésperas do Natal, as fábricas estivessem operando a pleno vapor para atender as encomendas do comércio.

O que se viu, porém, foi um recuo de 0,2% e um nível de produção muito aquém do pré-pandemia. Isso significa dizer que a indústria já começou 2022 com o pé no freio. Não por acaso, o sentimento entre os agentes econômicos é de completo desânimo. No geral, segundo pesquisa realizada pelo Banco Central, a projeção de crescimento para o Produto Interno Bruto (PIB) neste ano está, agora, em 0,36%. É uma estimativa próxima de recessão.

Para piorar, o Banco Central dos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed), avisou que promoverá pelo menos três altas na taxa de juros. Esse movimento bate em cheio sobre as nações emergentes, como o Brasil. Quer dizer: dinheiro estrangeiro que poderia vir para o país irrigará a maior economia do planeta. O resultado será dólar mais alto, inflação resistente e juros ainda maiores em meio a uma recessão quase que inevitável.

Seria prudente, portanto, que o chefe da nação descesse do palanque para enfrentar os imensos desafios que estão colocados. Depois de um bom período de férias, uma parada em um hospital seis estrelas e um jogo com artistas do sertanejo, é vital que a principal liderança do país assuma o controle da locomotiva que está próxima do desfiladeiro antes que seja tarde demais. Ou será que todo o sofrimento dos últimos dois anos não foi suficiente para lhe causar nenhuma comoção? O Brasil pede socorro.

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