OPINIÃO

Artigo: "Invasões bárbaras"

Fernando Brito
postado em 31/01/2022 06:00

O projeto de civilização no Brasil está sendo massacrado, sob ataques de hordas bárbaras, que se multiplicam das arenas de futebol aos palácios governamentais e não poupam sequer os paraísos naturais mais longínquos. Na semana passada, Brasília foi palco de um vexame retumbante, ao estender tapete vermelho para que uma turba de maloqueiros pudesse depredar o patrimônio público no Estádio Nacional Mané Garrincha, tendo como testemunhas deputados (distrital e federal), membros do Executivo local e poderosos agentes financeiros, entre outras figuras ilustres da capital do país. Nada disso, no entanto, foi capaz de inibir a quebradeira nas arquibancadas, transmitida em tempo real para todo o mundo, via internet, com cenas lamentáveis de crianças em pânico se refugiando no gramado para escapar da confusão: tiro, porrada e bomba! Ninguém foi preso. Um escárnio com o cidadão e um deboche diante das autoridades presentes.

O vandalismo entre torcedores de futebol não é novidade no Brasil nem exclusividade de Brasília. Este início de temporada 2022, aliás, assusta com os inúmeros casos de violência registrados país afora. A invasão de campo e a faca encontrada em meio ao tumulto na semifinal da Copa São Paulo, em Barueri, evidenciam o tamanho do problema.

Mas a barbárie é famigerada e vai além — tira a paz e a vida de quem só sonhava cumprir o destino em harmonia com a natureza, cada vez mais rara e devastada em nome de uma lucratividade insana. Quem são os assassinos de "Zé do Lago", da esposa, Márcia; e da filha, Joene — encontrados mortos às margens de um rio, em São Félix do Xingu, no Sul do Pará? A família era conhecida por desenvolver um projeto ambientalista de repovoamento de tartarugas na região.

Quem são os responsáveis pelo desastre ambiental que contamina as águas de Alter do Chão, o conhecido "caribe amazônico", também no Pará, onde agora as comunidades veem o futuro ameaçado pela poluição dos rios? As primeiras suspeitas são de que o desmatamento, a mineração ilegal e o agronegócio insustentável tenham provocado o problema. A cadeia produtiva do turismo ecológico, um dos motores da economia local, sofrerá um forte impacto, quando começava a ensaiar uma recuperação dos danos provocados pela pandemia.

Nos últimos anos, o país vem sendo arrasado por essa crescente mentalidade que se envaidece pela truculência e negação da ciência. Tomaram o poder e não fazem a menor questão de respeitar as leis. Pelo contrário, incentivam a destruição e o ódio a tudo que preserva a vida. A parte da sociedade brasileira que ainda valoriza a civilização precisa reagir urgentemente. Como dizem os Evangelhos, nem espanta tanto a crueldade dos maus, mas o silêncio dos bons.

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