Não podia ser diferente. Apesar do silêncio contundente do presidente Jair Bolsonaro em relação à invasão da Ucrânia pela Rússia, o representante do Brasil no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), embaixador Ronaldo Costa Filho, não só votou a favor da resolução por ações contundentes contra o país de Vladimir Putin, como deixou claro o quanto o conflito provocado pelos russos está colocando em risco o equilíbrio global. Nas palavras dele, o mundo vive uma situação sem precedentes de ameaça à ordem internacional. "As preocupações de segurança manifestadas pela Federação Russa nos últimos anos, particularmente em relação ao equilíbrio estratégico na Europa, não dão à Rússia o direito de ameaçar a integridade territorial e a soberania de outro Estado", disse.
O embaixador acrescentou: "À medida que ouvimos relatos de crescentes baixas civis, medo e devastação na Ucrânia, um cenário que qualquer guerra inevitavelmente gera, nosso principal objetivo, agora, é interromper imediatamente as hostilidades em andamento. Como devemos fazer isso? Primeiro, o Conselho de Segurança deve reagir rapidamente ao uso da força contra a integridade territorial de um Estado-membro. Uma linha foi cruzada, e este Conselho não pode ficar calado". Para ele, o mundo não pode chegar ao ponto de não retorno. Infelizmente, o Brasil e outros 10 países que votaram a favor de ações contra a Rússia, que tinha poder de veto, foram derrotados.
A pressão por um posicionamento claro do Brasil contra a Rússia é enorme. Pouco antes de Costa Filho falar no Conselho de Segurança da ONU, deu-se um movimento inédito em Brasília. Embaixadores dos sete países que compõe o G7, o grupo das sete economias mais industrializadas do planeta, foram pessoalmente ao Itamaraty cobrar a condenação do ataque à Ucrânia. O Brasil se meteu nessa enrascada, que certamente lhe custará caro, com a visita de Bolsonaro a Putin pouco antes da deflagração do conflito armado no Lesta Europeu. No encontro, o presidente brasileiro afirmou que o país era solidário à Rússia. Com essa declaração, em vez de ganhos econômicos, o chefe do Executivo trouxe na bagagem o repúdio da comunidade internacional.
A postura de Costa Filho no Conselho de Segurança foi um grande avanço, mas o estrago provocado por Bolsonaro, que se colocou ao lado de um ditador, só será revertido quando ele assumir, publicamente, que repudia o genocídio que está sendo cometido na Ucrânia. Não é possível que ele fique do lado errado da história, ao endossar ações violentas que agridem a soberania e a integridade territorial de um país. A Rússia é uma agressora, que manchou de sangue a Carta da ONU que prega a paz e o respeito às nações. Muitos se perguntam se o presidente brasileiro, que calou seu vice, vê como normal Putin agora ameaçar a Suécia e a Finlândia.
O mundo, ao menos sua parcela civilizada, tem pressa pela retirada efetiva da Rússia da Ucrânia. É inaceitável que crianças, jovens, mulheres, homens, idosos sejam mortos sem piedade ou retirados de suas casas, de seu país, pelo desejo de um único ser desprezível com sede de poder. As cenas exibidas para o mundo são chocantes demais. Interromper os massacres é mais do que urgente. Um país inteiro, a Ucrânia, foi colocado de joelhos. Seus cidadãos que não conseguiram fugir terão de se submeter a uma ditadura cruel. Quantos mais invasões, bombardeios, mortes ainda teremos de assistir impotentes? Que os governantes do lado bom da história evitem a barbárie. Todos estão em risco.
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