Guerra no leste europeu

Rodrigo Craveiro: A guerra da insensatez

Rodrigo Craveiro
postado em 16/03/2022 06:00
 (crédito: Getty Images )
(crédito: Getty Images )

"Parem o tempo. Coloquem flores nos canhões dos tanques. Toquem o coração do soldado, um dia, menino doce e atrevido forçado a se tornar assassino. Vejam a pomba branca fazer revoada sobre a alvorada de uma nova humanidade. Limpem o sangue das ruas, das estradas e calçadas... Deixem a brisa mansa da manhã acariciar o que antes foi treva. Decretem primavera a cada por-do-sol. Sede de paz..."

Com esse sentimento, começo a escrever e tropeço em uma foto publicada por Halina Birenbaum, uma judia polonesa de 92 anos, em sua página no Facebook. Uma estação de trem, em Kiev, que mais se parece com um rio de gente. A imagem remete às lembranças mais dolorosas de Halina. Dos 13 aos 15 anos, entre 1943 e 1945, ela esteve no campo de extermínio de Auschwitz. "Eu me recordo dos trens lotados de gente caminhando pela rampa de Auschwitz, do grande fogo, da fumaça negra e do cheiro de carne queimada, das montanhas de roupas", contou ao Correio, em reportagem especial publicada em 25 de janeiro de 2015.

Quase oito décadas depois do fim da Segunda Guerra Mundial e do hediondo Holocausto judeu, a Europa volta a reviver os horrores de um conflito. São dilacerantes as fotos de multidões desesperadas para abandonar sua pátria, seus familiares e suas vidas. Forçadas a recomeçar em um país estranho e sem a certeza de, um dia, regressarem para o aconchego de seus lares.

Quantas crianças ficarão órfãs por causa da sanha bélica de um líder que mais se posiciona como um czar ou um autocrata? Quantas pessoas mais morrerão por simplesmente defenderem de invasores a terra que amam? Em pleno século 21, vivemos tempos em que a força das armas se sobrepõe à razão do diálogo. Vladimir Putin declarou guerra aos vizinhos, ao seu próprio povo e ao mundo racional. Invadiu a Ucrânia, ordenou a prisão de manifestantes pacifistas, desafiou a comunidade internacional como se estivesse acima de tudo e de todos.

Não existe justificativa para a guerra. Putin precisa ser parado. Nunca antes o planeta esteve sob ameaça de novo conflito mundial. A simples menção a armas nucleares é de "arrepiar os ossos", como afirmou o secretário-geral da ONU, António Guterres. Passa da hora de a sensatez prevalecer sobre ímpetos primitivos de um déspota. Parem o tempo. Troquem as artilharias de canhões pelas flores. E deixem a pomba da paz fazer vento sobre o nosso tempo. Antes que seja tarde demais.

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