Por VINICIUS LAGES — Diretor Técnico do Sebrae Alagoas, e ex-ministro do Turismo
PAULO SOLMUCCI — Presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel)
Realizou-se em Maceió, entre 29 e 31 de março, o 36º Encontro Nacional da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes, entidade que representa o mais importante setor de nossa economia. Isso ocorreu num momento de retomada plena das atividades econômicas, sem as restrições impostas pela pandemia. Aquela grande reunião — que se desenvolveu com os devidos protocolos sanitários da era covid-19, como é de praxe no setor — foi um esperançoso sinal de tempos menos turbulentos.
A pandemia provocou efeitos colossais sobre as atividades econômicas, não apenas pela interdição do funcionamento dos negócios, mas também pela brutal contração de demanda. Tudo isso é conhecido, porque, ao longo da crise sanitária e econômica, as interdições dos estabelecimentos e a retração na demanda recorrentemente fizeram parte dos debates e das tensões. A prioridade à proteção da vida prevaleceu sobre as outras mortes, também evitáveis, como as ocorridas no âmbito econômico.
Se traçarmos o panorama dos efeitos dessa crise, veremos que um dos setores mais afetados foi, sem dúvidas, o de serviços, especialmente os relacionados ao turismo, aos eventos e à alimentação fora do lar. Em todo o país, cerca de um milhão de estabelecimentos da alimentação fora do lar tiveram que obedecer às seguidas determinações do setor público, recorrentemente vendo-se na contingência de cerrar as portas. O impositivo abre e fecha dos negócios impactou seis milhões de trabalhadores e, aproximadamente, dois milhões de pequenos empreendedores.
Talvez seja pouco conhecida, pela maioria das pessoas, a extensão dos efeitos danosos e desproporcionais causados aos serviços da alimentação fora do lar. O que se viu foi o encolhimento de 35% do setor, tanto no número de estabelecimentos (que se reduziram de um milhão para 750 mil) quanto no contingente nacional de trabalhadores (que caiu de 6 milhões para 3,9 milhões). É verdade que os lockdowns (confinamentos) aconteciam nos países socioeconomicamente melhor estruturados.
Mas, na maioria desses países, os governantes disponibilizavam, a título de reparação, os empréstimos não-reembolsáveis. Ou seja, um socorro, a fundo perdido, às pequenas empresas. No auge da pandemia, realizou-se no Fundo Monetário Internacional uma pesquisa junto a 130 nações. Claramente, identificou-se que 77% delas (100 países) estavam fazendo essa reparação, a fundo perdido. Por aqui, as pequenas empresas receberam valiosas, porém insuficientes, ajudas do governo federal, que se efetivaram por meio do Pronampe e da Medida Provisória dos Salários.
Às contrapartidas e aos reembolsos dessas ajudas, atualmente, somam-se os passivos acumulados (aluguéis, fornecedores, impostos municipais, estaduais e federais). O desempenho do setor, para os próximos anos, está sacrificado pelo peso do passado que a insuficiente gestão oficial da pandemia lhe impôs. Como será o amanhã? Os dois autores deste artigo fizeram suas respectivas exposições na abertura do encontro de Maceió.
O tripé temático do fórum da Abrasel, na capital alagoana, foi perseverança-conhecimento-inovação. Na esfera da perseverança (ou resiliência), tornou-se evidente que os danos da pandemia sobre os negócios e o emprego só não foram ainda maiores em razão da extraordinária capacidade dos empreendedores, que resistiram aos devastadores efeitos de uma realidade multiplicadamente adversa.
Qualquer estímulo que se dê a um setor com essa musculatura produzirá, em um curtíssimo prazo, resultados muito positivos, recuperando-se os negócios arruinados e os empregos perdidos. A experiência empresarial acumulada é incomensurável. A desmedida resiliência, durante a pandemia, ampliou o arsenal de conhecimento do setor, seja no que se refere aos procedimentos meramente presenciais ou àqueles hiperconectados.
Os negócios da alimentação fora do lar estão, cada vez mais, se robustecendo nos âmbitos da gestão e da tecnologia. Só resta, portanto, uma trava a ser removida. A trava é o cruel passivo das dívidas, continuamente infladas pelo carregamento de juros e impostos, pelas pendências financeiras acumuladas no curso desses dois anos da pandemia. Assim como outros setores que receberam apoio mais adequado, é urgente que esta pauta seja tratada na agenda econômica e política do momento presente, às vésperas de o país ser passado em revista, no encontro com as urnas. Ignorar tal evidência (diante de fatores explosivos, como a retração do poder de compra, a alta inflação, as elevadas taxas de juros, o câmbio flutuando, desancorado dos fundamentos macroeconômicos) é testar os limites da capacidade de resistir.
Isso seria afrontar um setor que não suporta mais desaforos, depois de dois longos anos de tantas tormentas.
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