Petrobras

Análise: Pior que está fica, e não é com Tiririca

Correio Braziliense
postado em 15/04/2022 06:00
 (crédito: Caio Gomez)
(crédito: Caio Gomez)

OTÁVIO SANTANA DO RÊGO BARROS - General de Divisão da Reserva

Nas últimas semanas, declarações intempestivas e decisões açodadas do principal acionista da Petrobras, o governo brasileiro, impondo trocas de direção da empresa e do conselho de administração, vêm provocando apaixonadas discussões no mercado e na imprensa.

Segundo o controlador majoritário, o preço dos combustíveis ultrapassou o limite da razoabilidade, provocando profundas dificuldades à população. A empresa, ainda que regida sob a legislação da bolsa de valores, deveria ter responsabilidade social na divisão dos lucros. Perfeito!

Gasolina, óleo diesel e gás de cozinha são dos principais itens a impactar negativamente os índices de inflação. Inflação que tira o poder de compra do cidadão. Cidadão que é obrigado a votar no próximo pleito eleitoral.

Sem paixões juvenis, é preciso direcionar melhor o foco da discussão. Não se trata, obviamente, de uma construção acadêmica envolvendo conceitos da área econômica, sobre vantagens e desvantagens do estatismo ou liberalismo.

Se o fosse, seria muito útil para correções de rumo da gestão do país. Ao contrário, é uma questão singela de voto na urna, para alcançar êxito na eleição ou reeleição, na conquista ou manutenção do poder. Do poder que inebria esquerda, direita e centro.

A questão da Petrobras é cortina de fumaça nessa disputa encarniçada que se instalou entre os antípodas extremados da política nacional, segundo pesquisas, mais próximos a se assentarem na cadeira do Palácio do Planalto.

O que pretendem encobrir? Aumentos salariais contra a legislação, facilmente qualificáveis como crime eleitoral. Nepotismo cruzado como pagamento de dívidas a agiotas eleitorais. Corrupção flagrada em ministérios e em grandes empresas, ligeiramente apuradas, e normalmente arquivadas por excesso de provas.

Enquanto o sistema de escolha da liderança e a governança do país não forem afrontados e corrigidos na raiz, continuaremos a ser apresentados, a cada quatro anos, a novas velhas notícias que apenas trocam a roupa para aparecerem modernas.

O cerne da questão está na evolução tortuosa do sistema democrático como refletido desde o século 18. Sua transformação do idílico pensamento de Rousseau e Tocqueville à crueza do mundo real de nossos dias.

O que nos leva a votar em uma pessoa? A razão, a emoção, os interesses pessoais ou simplesmente a alienação? Como a memória do eleitor pode ser deletada, e mesmo manipulada, a favor ou contra candidatos?

Como aceitar a deselegância grosseira, e não vejam aqui pleonasmo, a suplantar a (in)tolerância. (In)Tolerância que abordei em meu último artigo aqui no Correio Braziliense.

Um bom começo para arrumar isso tudo é educar a população. Aliás, uma das dívidas da democracia, segundo Norberto Bobbio. Apenas a consciência individual, solitária e madura, tem poder para escoimar a velha política do curral eleitoral, que somada às bolhas digitais com seus robôs, se transformaram em um cancro social.

Sem pieguice, educação é ferramenta que otimiza o pensar.

A receita para o bolo é não transformar educação em palanque político para agentes de qualquer coloração ideológica fazerem proselitismo em causa própria. Ou introduzi-la no sistema de ensino como catalisador das causas patroneadas pela esquerda.

Acrescente-se a ela uma verdadeira reforma do sistema eleitoral que evite agremiações de aluguéis, partidos camaleões e lideranças compráveis a trinta moedas de Judas, desviadas das pochetes surradas da população mais simples e necessitada.

Vamos precisar lutar. Mostrar diariamente as imposturas. Oferecer opções que sejam compreensíveis para a massa da população. Dos centros mais desenvolvidos às palafitas de papelão à beira de córregos malcheirosos.

A manter-se o que está aí, e parafraseando um dos deputados mais votados nos últimos tempos para o Parlamento nacional: pior que está não fica.

Mas pode ficar sim.

Paz e bem!

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