LEO HORTA - Sócio fundador da Maitreya Consultoria
Vivemos uma era pós-pandemia com tensões sociais e políticas na Rússia e Ucrânia que enfatizam ainda mais uma realidade que estávamos prevendo, mas que ainda não era tão visível: a desglobalização. Esse termo é designado para denominar tendências que surgiram contrárias ao processo de globalização, que são percebidas cada vez mais nas discussões internas das grandes empresas ao redor do mundo.
No cenário atual, mais de 380 empresas deixaram a Rússia. Essas saídas impactam não só a economia local, mas globalmente, pois, mesmo que a decisão dessas corporações tenha sido por motivos de imagem, políticos ou financeiros, elas geram desempregos, quebra de cadeias e mercados. Com a globalização da cadeia, ao alterar uma operação relevante, automaticamente, há um impacto em toda a cadeia de suprimentos e comercial. Ou seja, ao desativar uma operação na Rússia, por exemplo, uma indústria global poderá levar anos para readequar sua cadeia de suprimentos com eficiência e qualidade novamente, com a capacidade de custo, logística, mercado consumidor, tecnologia, mão de obra e fornecedores locais.
Além do impacto mais claro da cadeia de vendas não se limitando à região específica e, sim, a toda a cadeia correlacionada à da região impactada. Ainda assim, após o reequilíbrio, essa empresa com cadeia globalizada ficará ainda exposta a outras mudanças em regiões ou países relevantes no globo que podem novamente desequilibrar, de forma repentina, sua cadeia de suprimentos impactando de forma importante seus negócios pelo mundo.
A realidade trazida à tona de forma mais clara pela Rússia e Ucrânia nos mostra o quanto as empresas são afetadas em toda uma cadeia produtiva e comercial de um momento para o outro. Porém, com o processo de globalização feito anteriormente, esse impacto tende também a ser global. Com empresas mundo afora vivenciando crises sanitárias, econômicas e políticas mundialmente, a "desglobalização" se torna uma realidade cada vez mais clara.
Ou seja, as empresas começam a dar mais importância a ter uma gestão de risco, e não focada somente em custo. Pois, quando olhamos essa situação, realmente a mão de obra pode ser mais barata nesses países ou ter tido um incentivo para montar uma operação no local, mas será que esse ganho de custo tem uma contrapartida alta de aumento de risco da estabilidade do negócio como um todo baseado na instabilidade global? Em um momento que o risco começa a ter mais relevância, seja ele de imagem, seja econômico ou democrático, o empresário passa a ponderar se a cadeia de suprimentos sendo mais local não é uma boa defesa ao risco, passando a ser a proteção para a operação que ao longo de anos foi estruturada e sua estabilidade, assim, preservada.
Portanto, o cenário atual da guerra e da pandemia nos empurra a viver cada dia mais um mundo em que as cadeias de suprimentos serão desenvolvidas mais regionais com produções mais verticalizadas. Isso, por si só, não obriga as empresas a não terem operações com visão global e ações que tenham alguns alicerces globais, mas não mais com sua exposição e total globalização da cadeia. Os impactos russos já evidenciam a força da desglobalização ligada a fatores de riscos de diversas empresas nesse cenário.
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