VIOLÊNCIA

Teve covardia? Sim, mas nada de fazer Justiça com as próprias mãos; isso é barbárie

As cenas da agressão a um adolescente de 14 anos praticada por um rapaz de 27 anos, ocorrida no último sábado em uma quadra de esportes no Núcleo Bandeirante, chocam pela frieza e pela covardia. Todos condenam a violência praticada principalmente pela diferença corporal, mas assusta a grande quantidade de pessoas que defendem a Justiça com as próprias mãos

Roberto Fonseca
postado em 29/04/2022 06:00
Victor Batista, 27, é acusado de atacar jovem com TDAH -  (crédito: Reprodução/Video)
Victor Batista, 27, é acusado de atacar jovem com TDAH - (crédito: Reprodução/Video)

As cenas da agressão a um adolescente de 14 anos praticada por um rapaz de 27 anos, ocorrida no último sábado em uma quadra de esportes no Núcleo Bandeirante, chocam pela frieza e pela covardia. Não à toa, foi um dos assuntos com mais audiência e comentários nas redes sociais do Correio durante a semana. Todos condenam a violência praticada principalmente pela diferença corporal, mas assusta a grande quantidade de pessoas que defendem a Justiça com as próprias mãos.

Nos dias seguintes à agressão, o autor da violência passou a receber ameaças dos vizinhos. Vídeos que circulam pelas redes sociais mostram dezenas de pessoas na porta da casa do agressor. Queriam "passar a limpo a história". A investigação está na reta final na 11º DP (Núcleo Bandeirante). O caso envolve crimes de ameaça, injúria e lesão corporal, com pena máxima de dois anos, mas a advogada da família do menor espancado pretende mudar a tipificação do caso para tentativa de homicídio doloso por motivo fútil.

O grande problema dessa história é que, mais uma vez, esbarramos na famosa frase "violência gera violência", do filósofo grego Epicuro. Reconheço que é muito difícil a emoção não superar a razão ao vermos uma cena tão brutal de um adulto contra um adolescente, mas é preciso que o discurso de ódio seja combatido. A punição precisa vir das autoridades competentes, não do anseio de vingança pessoal. Avalio que a Justiça com as próprias mãos é o mais puro estado de barbárie humana.

Presenciei debate semelhante no caso do tapa dado pelo ator Will Smith no comediante Chris Rock, na cerimônia de entrega do Oscar. Os usuários das redes sociais se dividiram. Uma grande parte das pessoas defendeu Smith. O principal argumento é de que é muito difícil ver uma pessoa querida ser humilhada e não reagir imediatamente. Mas a melhor saída é a violência? Acredito que não. É possível dar uma resposta à altura sem ser no braço.

Entendo que muito do estado de Justiça com as próprias mãos tão defendido e difundido em uma parcela da sociedade decorre da incompetência do Estado brasileiro. A morosidade do Judiciário e a falta de condições de trabalho para a polícia em grande parte dos municípios contribuem sobremaneira para o desejo de vingança. Mas não pode ser assim. É preciso que todos tenham consciência disso.

 

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