Editorial

Visão do Correio: Os alertas que vêm de fora

Correio Braziliense
postado em 10/05/2022 06:00

O mundo está dando um recado claro ao Brasil: ou toma juízo na política e na economia ou pagará uma fatura pesadíssima. Os tempos de tranquilidade acabaram. Além da guerra entre a Ucrânia e a Rússia e do aumento das taxas de juros nos Estados Unidos, a covid ameaça parar a China, o que, se confirmado, colocará o mundo de joelhos.

A China, por todas as escolhas erradas de muitos países, incluindo o Brasil, que deixaram correr solto um processo de desindustrialização, é hoje o grande fornecedor de insumos industriais do planeta. Isso já havia se explicitado durante o primeiro ano da pandemia do novo coronavírus.

Como, porém, a China conseguiu conter logo a disseminação da covid, o suprimento global continuou funcionando, ainda que com restrições. Por isso, foi possível retomar a economia tão logo os países iniciaram a abertura e a retomada das atividades. A produção de insumos industriais diminuiu, mas não a ponto de criar grandes entraves. Trouxe, contudo, a inflação, que assola todo o planeta.

Agora, o risco é real de a economia mundial entrar em parafuso. Com os grandes centros produtivos chineses fechados ou semiparalisados, já está faltando componentes industriais em várias partes do globo. Isso é mais visível na indústria automobilística. Uma fábrica da Volskwagen em São Bernardo do Campo suspendeu a fabricação de veículos.

Portanto, além de torcer para que a onda de covid que perturba a China seja passageira, o Brasil precisa fazer o dever de casa na economia e parar de criar tanta turbulência na política. Somadas as incertezas externas com a falta de confiança interna, por causa de um governo que insiste em fragilizar as instituições democráticas e estimular a radicalização, uma bomba explodirá logo mais à frente.

O dólar, que chegou a ser negociado a R$ 4,60 pouco mais de um mês atrás, voltou a encostar nos R$ 5,20, e está havendo uma destruição enorme de riqueza na Bolsa de Valores. O Ibovespa, principal índice de lucratividade do pregão paulista, aponta para menos de 100 mil pontos, depois de ter ultrapassado os 120 mil. Os investidores estrangeiros, que vinham irrigando o mercado acionário, começam a fazer o caminho de volta. Dólares estão saindo às pencas do país.

Para desgosto de todos, nesse contexto altamente desfavorável, a inflação continuará alta. E o sinal mais evidente disso foi o aumento de quase 9% (R$ 0,40) no preço do litro do diesel, anunciado ontem pela Petrobras. Tudo indica que o próximo passo será reajustar a gasolina. Não à toa, a perspectiva é de que a inflação passará de 10% pelo segundo ano seguido. E haja aumento de juros para conter esse movimento.

Diante desse quadro desafiador, em vez de estimular a confusão, o governo deveria baixar as armas e assentar a paz. De que adianta atacar as urnas eletrônicas e o Supremo Tribunal Federal (STF) quando a atividade produtiva está indo para o buraco? A economia não aceita desaforos. E ela, quando vai mal, como é o caso no Brasil hoje, costuma ser implacável com os governantes. As eleições, ressalte-se, estão logo ali.

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