Editorial

Visão do Correio: A pandemia e a educação

Correio Braziliense
postado em 21/05/2022 06:00

As próximas gerações sentirão muito o peso da pandemia do novo coronavírus. E dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) apontam que a fatura será maior no Brasil. De todos os países que compõem o G20, os brasileiros terão a terceira maior queda de renda nas próximas décadas, atrás apenas do México e da Indonésia. Tudo por causa do fechamento das escolas durante o período mais crítico da crise sanitária.

Se nada for feito para reverter os estragos provocados pelo aprendizado incompleto durante a pandemia, o FMI calcula que o rendimento médio da atual geração de estudantes cairá 9,1% ao longo da vida. No caso dos mexicanos, o tombo será de 9,9% e dos indonesios, de 9,7%. O resultado disso será o aumento na desigualdade de renda, que já é brutal no Brasil. Por isso, alertam especialistas, a urgência de se fazer um grande plano para revigorar a educação no país.

Os números são assustadores. Somente nos anos de 2020 e 2021, as interrupções nas escolas afetaram 1,6 bilhão de alunos em todo o planeta. E não houve escapatória: todos os países do G20 foram atingidos, mas as perdas de aprendizado recaíram, sobretudo, sobre os emergentes, com consequências mais graves para as populações vulneráveis. Projeções demográficas indicam que a geração de estudantes afetados pela pandemia representará até 40% da população em idade ativa nas economias do G20 nas próximas décadas. Não por acaso, o FMI assegura que o impacto da crise sanitária na educação é algo sem precedentes, e seus efeitos na economia, na desigualdade e na renda da população serão sentidos por muito tempo.

As deficiências na formação dos estudantes batem direto no mercado de trabalho, pois prejudicam a qualificação da mão de obra e a produção agregada nas próximas décadas. No Brasil, hoje, são necessários quatro trabalhadores para produzir o mesmo que um americano no chão de fábrica. A produtividade do trabalho no país está estagnada há mais de três décadas. Ou seja, a tragédia da crise sanitária já pegou os brasileiros em séria desvantagem, e isto tem ficado evidente em testes de desempenho dos alunos, na diminuição de matrículas e nos elevados níveis de evasão escolar.

Sem formação adequada, os trabalhadores tenderão a inflar o mercado informal, que já é maior no país do que o formal. Nunca se teve tão poucos brasileiros com carteira assinada. O resumo de tudo isso é a precarização da mão de obra e salários cada vez menores. Por isso, é fundamental que o governo aja para evitar o pior, e isso passa pelo reforço do Ministério da Educação, que, neste governo, deixou de ser prioridade. A pasta está no quinto ministro e, em vez de tocar um programa profundo para melhorar a qualidade do ensino e dos professores, apegou-se a questões de costumes.

Todos os estudos apontam que, no Brasil, um cidadão só consegue ter um grande aumento da renda se concluir o ensino superior. Sendo assim, é vital que, desde muito cedo, as crianças aprendam a ler, a escrever e a fazer contas. Não seguir nesse caminho é condená-las à pobreza, à dependência de programas de renda do governo, que são usados como moedas políticas. Não é esse o país que se espera. O que se quer é uma economia forte, com educação de primeira, trabalhadores qualificados, com renda adequada e bem-estar social. O estrago está feito, mas ainda é possível revertê-lo. Basta querer.

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