Editorial

Visão do Correio: Sinal de alerta para o mundo

Correio Braziliense
postado em 24/05/2022 06:00

O mundo deve se preparar para tempos tenebrosos. Pesquisa realizada com economistas e representantes dos maiores bancos e empresas do planeta aponta uma crise de longa duração, com resultados pesados para a maior parte da população, sobretudo a mais pobre. Apresentado no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, o levantamento prevê crescimento menor da economia, inflação mais alta, salários menores e aumento na insegurança alimentar. Por causa dos fortes reajustes nos preços dos alimentos e da energia elétrica, milhões de famílias serão empurradas para a miséria, não terão o que comer.

"Estamos à beira de um ciclo vicioso que pode impactar as sociedades durante anos. A pandemia e a guerra na Ucrânia fragmentaram a economia global e criaram consequências de longo alcance que correm o risco de acabar com os ganhos dos últimos 30 anos", alertam os especialistas. Para eles, o quadro de "tempestade perfeita de volatilidade e incertezas" piora as escolhas de governos e de formuladores de políticas, com impacto direto no custo de vida, na sustentabilidade da dívida pública e nos investimentos. As consequências humanas serão devastadoras.

A situação se agrava porque muitos países não estão tendo a dimensão exata do perigo. Em vez de encarar as adversidades e buscar saídas menos custosas para a população, governantes fogem das responsabilidades e disseminam fake news, criando um mundo fictício com o único objetivo: manterem-se no poder. Por isso, o alerta: os eleitores não devem se deixar levar por falsas promessas, pois os resultados, mais à frente, serão de difícil reversão. O voto consciente é peça fundamental nesse processo, no qual não há espaço para salvadores da pátria.

A América Latina, puxada pelo Brasil, deverá apresentar a maior inflação neste ano, agravando as desigualdades sociais, que já são enormes. A região, sabe-se, sempre pecou por escolhas erradas ao priorizar o populismo. Cair novamente nas mesmas armadilhas resultará em uma fatura altíssima. Felizmente, ainda é possível evitar o pior, mas a desaceleração da atividade já está contratada. As famílias terão de abrir mão de coisas básicas para a sobrevivência. Até nas nações mais desenvolvidas, como os Estados Unidos, os tempos serão de apreensão.

O Brasil chega a este momento sem crescimento econômico há mais de uma década. Na média, desde 2011, o Produto Interno Bruto (PIB) avança 0,3% ao ano. Ou seja, mesmo nos períodos de maior prosperidade da humanidade, o país não conseguiu tirar o proveito necessário para resolver pendências históricas, como a pobreza extrema. A classe média, que é a base de qualquer sociedade, também enfrenta um desemprego renitente e aumenta a sua dependência do governo. Isso pode ser medido pelo aumento do número de brasileiros que dependem do Sistema Único de Saúde (SUS): são mais de 165 milhões de pessoas.

Aqueles que vierem a governar o Brasil a partir de 2023 terão o trabalho hercúleo de tirar a economia do atoleiro e recolocá-la no caminho do crescimento, ainda que as adversidades globais sejam muitas. E não será por meio de bravatas ou planos inconsistentes. O que o país precisa é de seriedade, de transparência, de compromisso com medidas abrangentes e não restritas aos grupos privilegiados de sempre. Erros em série tendem a agravar a miséria que tomou conta das cidades e, por tabela, incentiva a violência.

A história já mostrou que a solução para a reversão da pobreza e a redução da marginalidade é o crescimento econômico sustentado. É o aumento da produção e do consumo que gera mais emprego e renda. As pessoas precisam de dignidade, e isso não se resume a programas sociais. Sim, eles são fundamentais ante o cenário desolador que vivemos. Mas as pessoas querem trabalho para satisfazer suas necessidades básicas. Que as escolhas do país sejam por um futuro melhor, não pelo retrocesso.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.