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Análise: Os perninhas rápidas de Tite

Oito anos depois, Tite usa a expressão "perninhas rápidas" para referir-se ao cardápio variado de pontas disponíveis para solucionar demandas ofensivas do Brasil na Copa do Qatar

Marcos Paulo Lima
postado em 11/06/2022 06:00
 (crédito: Javier Soriano/AFP)
(crédito: Javier Soriano/AFP)

Na segunda passagem pela Seleção, o técnico Luiz Felipe Scolari batizou um dos xodós — o meia-atacante Bernard — de "menino com alegria nas pernas". O jovem ponta do Atlético-MG era alternativa de velocidade, dribles, um contra um, na Copa das Confederações 2013 e na Copa 2014. Felipão só não esperava que Bernard fosse passar de acessório a peça-chave depois da grave lesão de Neymar contra a Colômbia nas quartas de final. Aos 21 anos, Bernard virou substituto do camisa 10 na semifinal contra a Alemanha, no Mineirão. Os supersticiosos esperavam que o camisa 20 incorporasse Amarildo, "o Possesso" — substituto do contundido Pelé no Mundial de 1962. Queimaram o Bernard. O resto da história você conhece bem...

Oito anos depois, Tite usa a expressão "perninhas rápidas" para referir-se ao cardápio variado de pontas disponíveis para solucionar demandas ofensivas do Brasil na Copa do Qatar. Embora a definição seja divertida, simpática e midiática em relação a opções como Vinicius Junior, Raphinha, Antony e Gabriel Martinelli, existe risco implícito.

Há quem veja nesses caras o fim do samba de uma nota só — a dependência do único fora de série Neymar. Os mais empolgados apontam Vinicius Junior com status para dividir o protagonismo. Calma. Ele ainda é mais um no Real Madrid dos cobras Benzema, Modric, Kroos, Casemiro, Courtois...

Eis o perigo. Os "perninhas rápidas" ainda não têm lastro, costas largas nem corpo marcado como o de Neymar para suportar as chicotadas, a pressão da Copa do Mundo. São adjuntos em um time refém do protagonista. Neymar precisa jogar como fora de série seja no papel de meia ou de falso 9 para potencializar os pontas. E os extremos necessitam de atuações no limite para dialogar com Neymar. É via de mão dupla.

Raphinha, Vinicius Junior, Neymar e Lucas Paquetá jogaram juntos pela primeira vez na vitória por 1 x 0 contra o Japão. Foram testados durante 75 minutos. O protótipo da ideia foi lançado na goleada por 4 x 0 contra o Chile, no Maracanã, pelas Eliminatórias. Como Raphinha estava lesionado, Antony compôs o quarteto. Independentemente de nomes, os "perninhas rápidas" não devem ser vistos como fim dos problemas da Seleção, mas meios de fortalecê-la.

Quando pede menos empolgação com os "perninhas rápidas", Tite sabe o papel hierárquico dos pontas no organograma. Eles chegaram para dar nova dinâmica ao sistema de jogo, mas o peso continua nos ombros dos homens de confiança. Richarlison, Neymar, Philippe Coutinho e Gabriel Jesus saíram fortalecidos dos últimos amistosos. Funcionaram quando foram acionados.

Tite acerta ao blindar os "perninhas rápidas". Evita fabricar — e queimar — novos "Bernards". Vinicius Junior, Raphinha, Antony, Martinelli e outros pontas são acessórios em um elenco que sofria com a falta de meninos atrevidos. Eles chegaram para somar, não para evitar "7 x 1".

 


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