Fome

Análise: Um país que vai pra trás

Cida Barbosa
postado em 16/06/2022 06:00
 (crédito:  Amaro Jr./CB/D.A Press)
(crédito: Amaro Jr./CB/D.A Press)

Este é um país que vai pra frente? Definitivamente, não. Este é um país que caminha para trás. Os retrocessos são múltiplos — e acentuados nos últimos anos —, mas este é, principalmente, um país que regride no básico dever de alimentar seu povo. Hoje, há 30 milhões de pessoas sem ter o que comer, o que significa que regredimos 30 anos — época em que havia 32 milhões de famintos.

O quadro desolador ganha contornos ainda mais dramáticos com o fato de que crianças e adolescentes estão mergulhados nesse sofrimento. A fome dobrou nas famílias com crianças menores de 10 anos, passando de 9,4% em 2020 para 18,1% em 2022. Na presença de três ou mais pessoas com até 18 anos de idade no grupo familiar, a tragédia atinge 25,7% dos lares. O levantamento é da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan).

A carência de alimentação tem potencial para impactar severamente o futuro de crianças e adolescentes. Afeta o crescimento, dificulta a aprendizagem, baixa a imunidade — abrindo a porta para infecções — e pode fazer com que eles não consigam alcançar o pleno potencial físico e intelectual, como destaca o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). O órgão ainda ressalta que as deficiências de vitaminas e minerais essenciais — a chamada fome oculta — roubam a vitalidade em todas as fases da vida e comprometem a saúde e o bem-estar de meninos e meninas.

Como pode o Brasil, terceiro maior produtor de alimentos no mundo, permitir que crianças passem fome? Como pode permitir que pais vejam seus filhos chorarem por comida, sem nada poder fazer? É revoltante, repulsivo, inaceitável.

Enquanto esse flagelo atinge milhões de famílias em todo o território nacional, autoridades com mandatos concedidos pelo povo torram dinheiro público e curtem a vida adoidado, indiferentes ao sofrimento alheio, à penúria daqueles a quem deveriam proteger. Agentes públicos que se comportam como se vivessem num país das maravilhas. Mas é sempre bom lembrar: o mesmo povo que elege também tem o poder de tirar. E outubro vem aí.

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