O novo aumento no preço de combustíveis anunciado na sexta-feira (18/6) colocou a Petrobras no centro de uma nova crise. Depois de anunciar alta de 14,25% no preço do diesel e de 5,18% no da gasolina, a estatal foi alvo de forte reação no governo, no Congresso e no Supremo Tribunal Federal (STF). E viu suas ações desabarem na bolsa de valores, que perdeu os 100 mil pontos pela primeira vez desde novembro de 2020. Mas, no meio do imbróglio, quem sofrerá as piores perdas, mesmo, será a população.
Isso ocorre porque a logística brasileira depende, de forma predominante, do transporte rodoviário. E a elevação no custo dos combustíveis, sobretudo do diesel, acaba provocando aumentos em série em toda a cadeia produtiva. Resultado, catapulta os preços, justamente no momento em que a inflação no país, com a queda em maio, dava os primeiros sinais de desaceleração. Além disso, a alta no custo da gasolina e do diesel atropela o esforço do governo no Congresso para zerar tributos sobre combustíveis, cujos preços são avaliados no Planalto como o principal motivo de desgaste do governo Bolsonaro hoje.
Em sua defesa, a Petrobras afirma que ficou 99 dias sem subir o preço da gasolina e 39 sem alterar o valor do diesel. E sustenta que o reajuste era necessário, conforme a política de paridade internacional de preço da estatal, para corrigir defasagens, tanto em relação à cotação do petróleo no mercado externo quanto à do dólar na comparação com o real. Para desconforto da companhia, o anúncio do aumento no Brasil, na sexta-feira, coincidiu com forte desvalorização do petróleo no mercado internacional, devido ao temor de recessão nos Estados Unidos.
Do lado do governo, Bolsonaro classificou o aumento de "traição ao povo brasileiro" e defendeu a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a Petrobras. "Ninguém consegue entender, algo estúpido. Ela lucra seis vezes mais que a média das petrolíferas de todo o mundo. As petroleiras fora do Brasil reduziram sua margem de lucro", criticou, em entrevista a uma emissora de rádio. O presidente da Câmara, Arthur Lira, pediu a renúncia imediata do presidente da estatal. "Não por vontade pessoal minha, mas porque não representa o acionista majoritário da empresa, o Brasil. E pior: trabalha sistematicamente contra o povo brasileiro, na pior crise do país", disse.
No STF, o ministro André Mendonça apontou a necessidade de conciliação entre a livre iniciativa e a função social da empresa, determinada pela Lei das Estatais. E deu prazo de cinco dias para que a companhia esclareça quais são os critérios adotados para o aumento de preços.
Na equação que define os reajustes existe de fato alguma preocupação social? Aos olhos da população sobressaem hoje os lucros fabulosos que vêm sendo obtidos pela Petrobras num momento em que tanto o Brasil quanto o mundo se veem mergulhados em forte crise provocada pela pandemia de covid-19 e, mais recentemente, pela guerra na Ucrânia.
Na contramão desse cenário adverso, a estatal anunciou lucro de R$ 44,5 bilhões no primeiro trimestre deste ano, uma alta de 3.608% em relação ao mesmo período do ano passado. E isso depois de ter encerrado 2021 com lucro recorde — o maior já registrado por uma empresa de capital aberto no país. Não resta dúvida de que quem paga a conta desse descalabro é a imensa maioria do povo brasileiro, cada vez mais pobre e miserável em meio a essa terrível conjuntura. É preciso buscar uma saída justa e urgente para o imbróglio.
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