Editorial

Visão do Correio: A chocante violência urbana

Além da violência gratuita, a afronta dos criminosos parece zombar do sistema penal atualmente vigente. O corpo de Bárbara Vitória, por exemplo, foi deixado em um matagal a 550 metros de onde a menina morava

Correio Braziliense
postado em 08/08/2022 06:00
 (crédito: Roberto Ramos/DP/D.A Press)
(crédito: Roberto Ramos/DP/D.A Press)

A latente sensação de insegurança que permeia as cidades brasileiras ganha contornos ainda mais dramáticos quando casos de crueza desumana conquistam o noticiário nacional. Um dos mais recentes ocorreu em Ribeirão das Neves, município situado na Região Metropolitana de Belo Horizonte, onde uma menina de 10 anos foi assassinada. A pequena Bárbara Vitória, filha de uma família pobre, saiu de casa no domingo (31) para comprar pães, a pedido dos pais. Ficou dois dias desaparecida e só foi encontrada na última terça-feira, já morta.

É mais um assassinato de uma criança inocente que chocou o país, mas infelizmente não se trata de caso isolado. Além da violência gratuita, a afronta dos criminosos parece zombar do sistema penal atualmente vigente. O corpo de Bárbara Vitória, por exemplo, foi deixado em um matagal a 550 metros de onde a menina morava. O principal suspeito foi encontrado morto na quarta (3) e a hipótese é que ele tenha cometido suicídio, segundo a Polícia Civil.

A brutal desigualdade social brasileira serve como fermento para elevar ainda mais os números de violência. Dados do anuário divulgado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública detalham o perfil do problema que o Brasil ainda não enfrentou como deveria. Dos assassinatos ocorridos no país em 2021, 77,9% das vítimas eram pessoas negras, 50% da faixa etária de 12 a 29 anos e 91,3% do sexo masculino.

A complexidade do cenário brasileiro desafia os especialistas, já que há um emaranhado de crimes com índices crescentes. A pesquisa revelou o aumento no número de casos de abandono de incapaz (11,1%), pornografia infantojuvenil (2,1%) e exploração sexual infantil (7,8%). No total, 2.555 crianças e adolescentes tiveram o mesmo fim precoce da pequena Bárbara Vitória — foram assassinados. A violência contra pessoas LGBTQIA também registrou aumento.

Anteriormente restrita às cidades maiores, a violência atualmente contamina até os cantos mais pacatos do país. Não têm sido raros os casos de quadrilhas com armamentos pesados assaltando agências bancárias em pequenos municípios do interior, levando pânico, tiros e até sequestros a populações acostumadas com a calmaria.

Os contornos do assassinato da menina Bárbara ainda estão em investigação, mas como ela foi encontrada sem a parte de baixo da roupa, a hipótese de que tenha sofrido abuso sexual ainda não é totalmente descartada. Caso isso se confirme, o caso dela irá se juntar a outros 56.098 estupros - incluindo de vulneráveis - do gênero feminino, registrados em 2021 em todo o país, o que representa um aumento de 3,7% em relação ao ano anterior. Já os casos de feminicídio caíram 2,4%, foram 1.319 vítimas em 2021 e 1.351 em 2020. É uma queda muito pequena e indigna de comemoração: em 2021, o Brasil registrou um estupro a cada 10 minutos e um feminicídio a cada 7 horas.

Equipar as polícias com ferramentas modernas de investigação, aprimorar políticas educacionais, sociais e econômicas são medidas inegociáveis que as representações políticas brasileiras precisam tomar de forma urgente, caso contrário, vamos continuar ceifando vidas de crianças como a da pequena Bárbara Vitória.

 

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