Editorial

Visão do Correio: Candidatos devem respeito aos eleitores

Nas últimas eleições, em que imperava o caixa-dois, a baixaria dominou. A propaganda gratuita foi usada, na maioria das vezes, para atacar adversários e destruir reputações

Correio Braziliense
postado em 28/08/2022 06:00
 (crédito: Ana Rayssa/Esp. CB)
(crédito: Ana Rayssa/Esp. CB)

A propaganda eleitoral gratuita no rádio e na tevê começou na sexta-feira e vai até 29 de setembro, véspera de os brasileiros assinalarem seus votos nas urnas eletrônicas. Nunca se viu tanto dinheiro envolvido como na atual campanha política. Somente os partidos dos dois principais candidatos à Presidência da República, o PT, do ex-presidente Lula, e o PL, do presidente Jair Bolsonaro, terão quase R$ 700 milhões do fundo partidário para publicidade. Essa montanha de dinheiro, que sai dos cofres públicos, não pode ser desperdiçada. Que os eleitores sejam brindados, nesse período, com um debate de alto nível, recheado de propostas para tirar o Brasil do atoleiro em que se encontra.

Nas últimas eleições, em que imperava o caixa-dois, a baixaria dominou. A propaganda gratuita foi usada, na maioria das vezes, para atacar adversários e destruir reputações. Fake news tornaram-se rotineiras, enquanto os assuntos essenciais eram escanteados. O Brasil, por sinal, paga um altíssimo preço por isso. Candidatos qualificadíssimos foram destruídos por publicidades que estimulavam o medo, e personagens de reputação questionável emergiram, sobretudo no Congresso, que, sem dúvidas, apresenta hoje a sua pior composição. O fisiologismo, bancado por um orçamento secreto que certamente faria corar caciques políticos do passado, está escancarado.

Os candidatos precisam estar conscientes de que entrarão todos os dias na casa dos brasileiros, inclusive em horário nobre. Portanto, que prevaleçam proposições construtivas, ideias que levem a reflexões sobre que Brasil queremos. Afinal, o país não cresce há mais de uma década. A inflação voltou com tudo e os juros retornaram aos patamares de cinco anos atrás, estando entre os maiores do mundo. A fome domina as ruas e 70% das famílias estão endividadas, sendo a maioria delas chefiadas por mulheres. Os jovens não veem perspectivas de futuro e o desmatamento acelerado compromete a qualidade de vida de milhões.

Não há tempo a perder com baixarias e acusações sem fundamentos. Os eleitores estão mais atentos do que nunca e ávidos por propostas que lhe tragam esperança de dias melhores. Na disputa de 2018, a internet acabou preponderando nas campanhas, o que permitiu que notícias falsas e ataques infundados se disseminassem como rastilho de pólvora. Agora, a televisão parece ter retomado seu protagonismo. Dados do Instituto Locomotivas e da empresa de consultoria PwC apontam que há 33 milhões de brasileiros sem acesso à web e 86,6 milhões que não se conectam todos os dias. Boa parte desse público continua fielmente ligado à tevê aberta. Não só ele, as classes C, D e E, que concentram o grosso do eleitorado, não abrem mão das novelas e dos programas de auditório.

Sendo assim, é de vital importância que a propaganda eleitoral, no seu curto período, proporcione aos brasileiros algo construtivo. Aqueles que realmente estão comprometidos com o Brasil não podem abrir mão de tal oportunidade. Especialistas em marketing e cientistas políticos acreditam que os candidatos que melhor explorarem a publicidade gratuita terão chances reais de sair na frente, em especial nos colégios eleitorais em que a disputa está mais acirrada. Não será uma eleição fácil para ninguém. Há um descontentamento claro do eleitorado com a classe política. Reconquistar a confiança requer respeito e bom senso.

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) está atento a possíveis abusos. E esse papel de garantir eleições limpas e segura é fundamental e deve ser respeitado. Não cabe, porém, ao tribunal extrapolar seu papel previsto em lei, tornando-se um censor e impedindo o debate e a livre opinião. Há limites para todos, inclusive para o TSE. Assim, que cada um cumpra o seu papel para que a maior festa democrática do país, as eleições, se transforme em uma oportunidade sem precedentes para que, enfim, o Brasil volte a sonhar com tempos melhores. Candidatos, a palavra está com os senhores. Que país desejam?

 

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