fake news

Alerta: Uma "realidade" paralela

Rodrigo Craveiro
postado em 09/11/2022 06:00
 (crédito: Caio Gomez)
(crédito: Caio Gomez)

O educador Paulo Freire foi preso. Ou será ministro da Educação do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Stefani Germanotta, nome de batismo da cantora Lady Gaga, é uma "ministra" de Haia que lidera uma comitiva no Brasil para deter Lula e seus assessores e comandar uma "intervenção federal" no país. Detalhe: a ex-atriz pornô libanesa Mia Khalifa seria a "diretora antifraude eleitoral" do Tribunal de Haia. O presidente Jair Bolsonaro ganhou as eleições, no primeiro turno, com 65% dos votos. O juiz Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, foi preso em flagrante. Uma auditoria realizada por uma empresa da Argentina concluiu que as eleições brasileiras foram fraudadas. Lula sofreu um derrame e está internado em estado grave no Hospital Sírio Libanês.

O primeiro parágrafo deste artigo não contém uma única verdade. Todas essas fake news foram despejadas nas redes sociais bolsonaristas e aceitas pelos simpatizantes de Bolsonaro como tábuas de salvação eleitoral. Por mais absurda que seja cada uma das "notícias" acima. A velha tática de acreditar tanto em uma mentira até que ela se torne uma "verdade" apenas faz mobilizar as massas e escrachar o ódio e a parca politização do povo brasileiro.

Parte da população mostra desprezo absoluto pela democracia e insiste em tomar as ruas para contestar as urnas e exigir uma intervenção das Forças Armadas. Muitos brasileiros criaram uma "realidade paralela". Em um comportamento de seita, esperam que Bolsonaro, um Jim Jones tupiniquim, os salve do comunismo, da "venezuelização" do Brasil, da bandeira vermelha.

Talvez essas pessoas jamais tenham escutado algo sobre a Escola Mecânica da Armada (Esma), em Buenos Aires; a Villa Grimaldi, em Santiago do Chile; os porões do DOI-Codi, no Brasil. Talvez o urro de dor lancinante dos torturados nas masmorras da ditadura não seja o bastante para calar o preconceito e a apatia política, sobretudo o fanatismo. Talvez o inferno vivido em Auschwitz, Treblinka, Dachau e Sobibor, onde homens e mulheres foram assassinados na câmara de gás e onde sobreviventes disputavam maçãs boiando no esgoto, não comova aqueles que insistem em idolatrar o fascismo e o nazismo.

Em nossa realidade paralela, nunca antes o Brasil se viu ameaçado pela xenofobia. Muitos chegaram a comparar os nordestinos aos carrapatos que dependem do gado para não morrerem de fome. Dói saber que tantos brasileiros compactuam com esse tipo de coisa. Dói saber que muitos cidadãos, tomados por uma idolatria absurda, perdem a capacidade de raciocinar ao aceitarem fake news citadas no início do texto e ao protestarem pela anulação de eleições justas, transparentes e limpas. Espero, de coração, que a imensa massa de manobra de Bolsonaro desperte da ignorância. Antes que o fascismo corroa nosso tecido democrático para sempre.

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