Opinião

Artigo: Racismo na escola

As escolas têm sido cobradas em relação aos desfechos desses casos para garantir que não haja reincidência, mas pouco tem se falado sobre a prevenção e as ferramentas que podem ser utilizadas para lidar com o assunto

Fernando Fleider
postado em 15/11/2022 06:00 / atualizado em 15/11/2022 12:04
 (crédito: Caio Gomez)
(crédito: Caio Gomez)

Fernando Fleider, CEO da ICTS, empresa especializada em soluções para gestão de riscos, compliance, ESG, cibersegurança e privacidade de dados

Em apenas uma semana, foi noticiado o envolvimento de alunos de colégios de três estados do Brasil com graves casos de racismo e discriminação. Alavancados pelo momento político do país, pelo poder das mídias sociais e pela divulgação na grande imprensa, os incidentes e suas consequências se tornaram o trend topic do momento.

As escolas têm sido cobradas em relação aos desfechos desses casos para garantir que não haja reincidência, mas pouco tem se falado sobre a prevenção e as ferramentas que podem ser utilizadas para lidar com o assunto.

Alguns colégios têm saído na dianteira do assunto, promovendo um ambiente que tente eliminar esses desvios comportamentais ou, ao menos, reconhecê-los de forma precoce. Numa pesquisa realizada pela Aliant, plataforma de soluções digitais para governança, riscos e compliance, o setor de educação que já utiliza o serviço de canal de denúncia saltou de 550 registros em 2020 para 3.764 denúncias em 2021, aumento de 584% em um ano.

Considerando que, em 2020, as escolas permaneciam com o sistema remoto de aulas e, em 2021, a maioria retornou ao modelo presencial, em especial no segundo semestre, vemos que nesse período o volume de denúncias chegou a 2.214 registros.

Os números comprovam a necessidade dessas instituições de adotarem tanto os serviços especializados de consultoria, como as ferramentas digitais para o combate de comportamentos que não são mais admitidos na sociedade e têm gerado resultados comprovados em organizações que utilizam esses recursos para reduzir incidentes.

Já há instituições saindo à frente na adoção desses serviços, como tradicionais escolas no eixo Rio-São Paulo, que recebem em seus canais de denúncia relatos ou suspeitas de discriminação, bullying e até mesmo para a chamada doutrinação, termo utilizado para casos em que há o entendimento de que o professor extrapola a sua responsabilidade educacional para a persuasão sobre determinada linha, seja política, seja religiosa, seja de modos.

Indo além dos canais de denúncia, também vemos a adesão a serviços de monitoramento de mídias sociais em relação a esses comportamentos e que envolvam o nome da escola, de seus alunos e do corpo docente, assim como a promoção de treinamentos temáticos se tornou realidade nessas instituições.

É preciso chamar a atenção para esse cenário e ressaltar que a educação continua sendo o melhor caminho para o fim das discriminações em qualquer lugar, por isso a escola tem papel crucial na questão. Mas, enquanto não se pode garantir que 100% dos alunos internalizaram os conceitos de diversidade, cabe às instituições monitorarem de forma contínua para que sejam evitadas as exceções que acabam trazendo prejuízos reputacionais à instituição e à sua coletividade.

Outro aspecto imprescindível para que, de um lado, não sejam cometidas injustiças e, por outro, sejam recolhidas as evidências necessárias para uma ação nesse sentido, é a investigação independente dos fatos, que passa pela coleta forense das mídias sociais, dos chats e pela entrevista profissional dos envolvidos.

Quando o grande responsável pela formação de uma sociedade mais justa acaba sendo o cenário de fatos lastimáveis como o ocorrido, a sociedade não deve economizar recursos para a normalização pretendida.

 


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