EDITORIAL

Visão do Correio: Sem recursos, sem pesquisadores

Correio Braziliense
postado em 16/12/2022 06:00
 (crédito: Caio Gomez)
(crédito: Caio Gomez)

Um movimento que volta a ameaçar o futuro da educação brasileira, com grande impacto no potencial científico e tecnológico do país, traz questão bastante antiga. Voltamos a falar da chamada "fuga de cérebros", ou seja, da saída do Brasil de parte de cientistas, pesquisadores, experts em várias áreas da ciência diante dos mais recentes bloqueios no orçamento de universidades públicas e agências federais de fomento à pesquisa e na redução de recursos discricionários do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).

Os indicadores mostram que em 2010 os recursos destinados ao MCTI eram da ordem de R$ 11,5 bilhões, com uma queda para R$ 2,7 bilhões em 2021. O orçamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), agências de fomento, caiu 60% entre 2013 e 2021 e, na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o impacto ainda foi maior: 70%.

Esse sucateamento afeta diretamente os pesquisadores. Muitos deles têm bolsas não reajustadas desde 2013, o que prejudica a qualidade de vida de muitos pós-graduandos e até mesmo o ir e vir daqueles que precisam se deslocar para aulas e pesquisas presenciais. Se a situação já está difícil em grandes centros urbanos, como em cidades-polo das regiões Sul e Sudeste, outras partes do país, como a Região Norte, estão a ver navios, já que os financiamentos destinados a essas instituições são ainda muito menores.

Consequentemente, a remuneração não faz jus ao potencial intelectual e à formação de ponta dos profissionais brasileiros e o que se vê é uma debandada de cientistas para instituições de renome mundial, a exemplo de Stanford, Yale, Columbia, Massachusetts e tantas outras. Atualmente, um doutorando no Brasil recebe, em média, R$ 2.200 de bolsa, sendo que ele ainda tem obrigação de dedicar-se exclusivamente à instituição, sem a possibilidade de obter outros rendimentos.

Na semana passada, o ex-ministro Sérgio Rezende, coordenador de transição do Grupo Técnico de Ciência e Tecnologia do novo governo, fez uma avaliação e declarou ser esta uma "fase de fundo do poço" e que o sistema nacional de ciência, tecnologia e inovação passa pela maior crise dos últimos 24 anos.

Vale lembrar que o Brasil é dotado de "cérebros" brilhantes, vide o sucesso do adolescente carioca Caio Temponi, divulgado na última quarta-feira, após ter sido aprovado no Instituto de Tecnologia da Aeronáutica (ITA), em Fortaleza (CE), com apenas 14 anos de idade, se transformando no jovem mais novo a obter a conquista nessa instituição.

A boa notícia — ou mais ou menos boa — é que o ministro da Educação, Victor Godoy, afirmou que o governo federal vai liberar, com uma medida provisória, parte dos recursos bloqueados do Ministério da Educação (MEC), o que corresponde ao desbloqueio de R$ 2 bilhões destinados a despesas já contratadas — verba que está congelada —, e de parte do orçamento de R$ 2,31 bilhões para novos gastos.

Enquanto isso, a "fuga de cérebros" se mantém. Perdemos todos.

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