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Artigo: Um dos maiores desafios da educação para o governo

pri-0311-opiniao Opinião Lula Educação -  (crédito: Caio Gomez)
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THIAGO ZOLA
postado em 17/01/2023 06:00

THIAGO ZOLA - Gerente de Projetos Especiais da Mind Lab

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) se tornou o principal veículo de ingresso na universidade no Brasil nos últimos 20 anos. Porém, em 2022, recebeu um dos menores números de inscritos em 17 anos desde o início de sua realização, 3.476.266. Somente no ano passado, no auge da pandemia, é que o exame registrou inscrições inferiores, na faixa de 3,1 milhões. Além disso, o índice de abstenção na prova ficou em 32,4%. Com isso, 2.351.513 de candidatos realizaram efetivamente as provas, segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que realiza o exame.

A edição 2022 ostenta outras marcas negativas. É quando se consolidou a menor participação de alunos vindos da rede pública, enquanto o percentual de concluintes do ensino médio privado não se alterou — apenas 1 em cada 4 alunos que terminou a escola pública se inscreveu no exame. Fato ainda mais agravado pelo menor número de participantes que se declaram negros, pardos e indígenas desde 2013, como mostrou um feito por pesquisadores da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), com apoio do Instituto Unibanco, com base em informações fornecidas pelo Inep.

Uma retrospectiva desde seu nascimento como um exame de "qualidade" do ensino médio demonstra que ele passou por várias mudanças e adaptações, sendo alvo de disputas políticas e ideológicas nos últimos anos, além de pautar o currículo do ensino médio, ainda muito focado nos conteúdos do exame. Além disso, com o advento da pandemia, o exame se tornou um instrumento de propagação da desigualdade social e educacional do país, visto que continuou sendo realizado sem nenhum tipo de adequação, mesmo com a longa paralisação das aulas nas escolas da rede pública, 50% superior às privadas.

Apesar das alterações ao longo dos anos, o Enem continua sendo uma avaliação que mede a capacidade de memorização, não valoriza a diversidade e muito menos as diferentes habilidades dos estudantes. Permanece desalinhado com as propostas pedagógicas do novo ensino médio, regulado por lei em 2017, que flexibilizou a jornada de aprendizagem, dando mais autonomia ao jovem na escolha das matérias em que se aprofundar, refletindo sua identidade, metas e sonhos para o futuro.

Por tudo isso, o Enem é um dos maiores desafios da educação para o novo governo. E uma das formas de superá-lo será adequando a avaliação ao conceito de Projeto de Vida, incluído nas bases do novo ensino médio. A ideia considera que o estudante vai desenvolver competências, habilidades e interesses, durante o período escolar, que lhe instruam a ter uma visão mais clara sobre o que faz mais sentido investir no seu futuro, não só profissional, mas também pessoal.

Nesse sentido, as alterações na avaliação devem estar alinhadas ao que um grupo de pesquisadores formado por psicólogos, economistas e educadores classificou como conhecimentos e habilidades para o século 21. Partindo de uma pesquisa sobre o que é esperado que os estudantes alcancem na escola para os seus futuros trabalhos, foram mapeadas competências e habilidades divididas em três grupos: cognitivo, intrapessoal e interpessoal. O primeiro faz referência aos processos mais tradicionais de aprendizagem, como criatividade, memória e pensamento. O segundo, considera a capacidade em lidar com emoções e moldar comportamentos para atingir objetivos. E o terceiro, envolve a expressão e interpretação de ideias.

Fazendo essas considerações, espera-se que as próximas avaliações do Enem almejem avançar muito mais além da inclusão de um tema na redação que, em 2022, foi "Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil", e repercutiu positivamente. E, sim, seja composto por questões que partam e contribuam para avaliar as condições dos jovens em resolver problemas complexos, seu pensamento crítico, sua atitude empreendedora e criatividade. São essas as habilidades que estão sendo consideradas hoje no mercado de trabalho. E são elas que podem auferir maior credibilidade às aprovações no Enem e, inclusive, elevar a diversidade no ingresso à universidade.

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