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Crise financeira

Americanas: lições da crise

 21/01/2023 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A. Press Brasília- DF - A rede Lojas Americanas deve entrar com pedido de recuperação judicial. Loja na 505 Norte. -  (crédito:  Marcelo Ferreira/CB/D.A. Press)
21/01/2023 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A. Press Brasília- DF - A rede Lojas Americanas deve entrar com pedido de recuperação judicial. Loja na 505 Norte. - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A. Press)
postado em 23/01/2023 03:55

O setor econômico brasileiro começou 2023 com um abalo impressionante. Uma das maiores varejistas do país, a Americanas entrou, na última quinta-feira, em recuperação judicial para resolver uma dívida de impressionantes R$ 43 bilhões. São cerca de 16.300 credores que, agora, entram na fila para tentar receber. Inicialmente, em 11 de janeiro, o CEO Sergio Rial revelou ter descoberto um rombo de R$ 20 bilhões nas contas da empresa e pediu demissão. Ele ficou breves 10 dias no cargo.

As ações, claro, derreteram. Perderam cerca de 80% de seu valor, em um movimento que só pode ser descrito como devastador. Vendidas na B3 por aproximadamente R$ 12, passaram a ser negociadas abaixo de R$ 2 — em março do ano passado, elas chegaram a valer R$ 35.

Já Sergio Rial — que fez trajetória notável como executivo em empresas como Cargill, Seara, Marfrig e Santander — veio a público, no seu perfil pessoal do LinkedIn, garantir que não sabia das inconsistências ao assumir o cargo, e justificar sua saída como uma "necessidade de correção de rota pela empresa".

Os bancos BTG, Bradesco e Santander estão entre os mais prejudicados pelo rombo. Segundo estimativas do JPMorgan, o BTG tinha exposição de R$ 1,9 bilhão, o Bradesco, de R$ 4,7 bilhões, e o Santander, de R$ 3,7 bilhões. Não ficou só nos gigantes. Milhares de acionistas minoritários impetraram uma ação coletiva na 5ª Vara Empresarial da Comarca da Capital do Rio de Janeiro, exigindo uma indenização pela fraude contábil. E um fundo de investimentos do banco virtual Nubank, batizado como "Caixinha" e, teoricamente, voltado para reservas de emergência, estava exposto. Os correntistas, que acreditaram estar seguros, acabaram perdendo dinheiro.

Quem também está com medo de perder — no caso, os empregos —, são os 44 mil funcionários espalhados pelo país em cerca de 3.500 unidades da Americanas. O risco de demissões em massa, fechamento de lojas e cortes dramáticos de gastos estão cada dia mais reais.

Todo o caso deixa reflexões e lições. A primeira vai para os pequenos investidores, aventureiros da bolsa de valores que, incentivados por youtubers, decidem se arriscar na compra e venda de ações. Luis Barsi, o maior investidor pessoa física da bolsa brasileira, evita totalmente ações de empresas varejistas. O motivo, segundo ele, é que o setor exige sempre o aporte de investimentos e, por isso, é questão de tempo até que tenham problemas financeiros. Em suas falas, ele costuma elencar outras gigantes que fecharam as portas, como Mappin, Mesbla e Jumbo-Eletro.

Já os correntistas que perderam dinheiro sem saber devem rever, com urgência, não só como estão aplicando seus valores dentro do ambiente destes bancos virtuais, mas a própria presença neles. É absurdo que eles tenham sido induzidos ao erro como foram.

Por fim, a discussão a ser feita é sobre a própria recuperação judicial. A Justiça reagiu e aceitou o pedido rapidamente, antes de qualquer análise mais profunda do caso. Ciente do estrago que a falência poderia causar, o governo — que também tem R$ 2,4 bilhões a receber da Americanas, via BNDES — preferiu não pagar para ver e achou melhor iniciar logo alguma solução. Mas ficou o questionamento se a recuperação judicial seria justificável, uma vez que o rombo foi causado, aparentemente, por uma fraude contábil — ou seja, um crime, e não meramente uma má gestão. É bem possível que a situação, portanto, não se encerre com a mera troca de comando da empresa e, sim, com algumas punições severas.

 


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