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SOCIEDADE

Análise: Bolsonarismo sofre derrotas no Congresso e na Justiça

Os seguidores mais radicais do bolsonarismo estão nas cordas. A casa caiu, no jargão popular. A nova direita vai precisar rearranjar o discurso

Prisão de golpistas na Praça dos Três Poderes: futuro deles será decidido até amanhã por Alexandre de Moraes -  (crédito: Ton Molina/AFP)
Prisão de golpistas na Praça dos Três Poderes: futuro deles será decidido até amanhã por Alexandre de Moraes - (crédito: Ton Molina/AFP)
postado em 03/02/2023 06:00

Quase um mês depois dos atos extremistas na Esplanada dos Ministérios, a sociedade brasileira presenciou nesta semana derrotas de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro tanto no Congresso quanto no Judiciário — o naufrágio da candidatura de Rogério Marinho (PL-RN) na disputa pelo comando do Senado e a prisão do ex-deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ), um dia após ficar sem o mandato parlamentar.

Em relação ao Senado, a derrota de Marinho é importante, mas deve ser vista com cautela. Antes de tudo, é um sinal do tamanho do bolsonarismo no Congresso. Mostra que a extrema-direita entendeu o seu limite e saberá jogar com ele. Apesar de aliados de primeira hora do ex-presidente bradarem aos quatro cantos que venceriam a eleição —a ex-ministra Damares Alves disse ter certeza que Marinho ganharia a disputa com 45 votos ao mesmo tempo que Flávio Bolsonaro (PL-RJ) deu um palpite semelhante: 43 votos —, Rodrigo Pacheco se manteve presidente do Senado com 49 votos contra 32 do único adversário.

Pacheco venceu com o apoio do Palácio do Planalto. E o governo terá agora que cumprir as promessas que empenhou sob o risco de ver desmoronar a base de apoio parlamentar. Os 49 votos recebidos por Pacheco são exatamente o mínimo para se aprovar uma emenda constitucional no Senado. Ou seja, para garantir um PEC sem sobressaltos, os aliados de Lula precisarão avançar sobre a oposição — é possível cravar que nem todos os 32 que votaram em Marinho são bolsonaristas, mas fazem parte do espectro político oposto ao Planalto.

Já a prisão de Daniel Silveira é mais um capítulo da ofensiva judicial contra o radicalismo existente em uma parcela dos apoiadores de Bolsonaro. A prisão um dia após o término do mandato de deputado federal é sintomática. Um dos principais argumentos dos defensores de Silveira em relação aos ataques que o ex-deputado proferia contra o Supremo Tribunal Federal era a imunidade parlamentar, o direito de livre expressão. Sem o cargo, Silveira retornou à prisão por descumprir as medidas cautelares determinadas pela Justiça, como o uso de tornozeleira eletrônica e a proibição de usar redes sociais.

Desdobramentos judiciais do terrorismo praticado na Esplanada em 8 de janeiro são esperados para os próximos meses, com denúncias criminais e os eventuais julgamentos. Mais de mil pessoas seguem presas; bens de empresas e pessoas físicas foram bloqueados por determinação da Justiça. Os seguidores mais radicais do bolsonarismo estão nas cordas. A casa caiu, no jargão popular. A nova direita vai precisar rearranjar o discurso.

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