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EDITORIAL

Visão do Correio: A vez do Brasil na transição energética

Previsão para o consumo médio do sistema em janeiro é de 82.865MW -  (crédito:  Beth Santos/Secretaria-Geral da PR)
Previsão para o consumo médio do sistema em janeiro é de 82.865MW - (crédito: Beth Santos/Secretaria-Geral da PR)
postado em 15/02/2023 06:00

Superar desafios energéticos faz parte da história do Brasil, que, agora, pode mais uma vez ser protagonista no processo de substituição de combustíveis fósseis por renováveis, cuja principal aposta é o hidrogênio verde. Olhando a história, o país teve a primeira usina hidrelétrica da América Latina (Marmelos Zero), em Juiz de Fora, inaugurada em 1886, iniciando o processo de substituição do gás na iluminação das cidades e nas fábricas, com a energia elétrica marcando a industrialização do país entre 1890 e 1920. Isso ao ponto de Juiz de Fora ser conhecida como a "Manchester mineira", numa referência à cidade inglesa berço da revolução industrial.

Décadas mais tarde, com as crises do petróleo, o Brasil foi pioneiro na adoção de programa para uso em larga escala do etanol como combustível, com o Pró-álcool, lançado em 1975. Hoje, o programa inclui o biodiesel, e os carros são fabricados para usar etanol ou gasolina, que tem 25% de adição do álcool anidro. O programa fez do Brasil um dos maiores produtores e exportadores do combustível verde, que em 20 anos representou a retirada de cerca de 600 milhões de toneladas de CO² da atmosfera.

E não parou por aí. A crise hídrica de 2001, que levou ao racionamento obrigatório de energia elétrica, fez o país a criar o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), dando suporte para os pesados investimentos realizados a partir de então em usinas eólicas e solares. Hoje, essas duas fontes respondem juntas por 23,1% da capacidade de geração de energia elétrica do país, ficando atrás apenas da fonte hídrica (50,7%). O país reduziu a exposição do setor elétrico ao regime de chuvas e acelerou o uso de fontes renováveis.

Agora, mais uma vez uma crise energética desafia o Brasil, com a necessidade mundial de descarbonização da economia e a substituição dos combustíveis fósseis até 2050, ou em 27 anos. O prazo parece longo, mas é curto se considerarmos que será necessário mudar toda a forma de consumo de energia que a humanidade utiliza há séculos e que movimentou os motores do desenvolvimento econômico. Se não é pioneiro, o Brasil oferece as melhores oportunidades para produzir o que se convencionou chamar de hidrogênio verde. O mesmo hidrogênio que é produzido hoje, mas com uso de combustível fóssil para gerar a eletricidade necessária ao processo de obtenção do produto, que tem mais potência para movimentar motores do que a gasolina.

Hoje, no Brasil, há plantas-piloto de usinas de hidrogênio, que fica verde pelo uso de fontes renováveis na geração da energia consumida para sua produção. E é aí que o Brasil leva vantagem. Primeiro tem uma costa marítima que fornece toda a água para a extração do hidrogênio por eletrólise, o que demanda muita energia, que pode ser fornecida por usinas eólicas instaladas no mar (offshore), aproveitando os ventos marítimos. Há tecnologia de usinas eólicas para atender a plantas de hidrogênio, como é o caso de um projeto na Bahia, com previsão de produzir 1 milhão de toneladas por ano de hidrogênio verde. Diante da crise, é mais uma vez a hora de o Brasil aproveitar as oportunidades e se tornar uma player na cadeia global de suprimento do combustível da água que irá se formar no planeta até 2050.

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