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EDITORIAL

Visão do Correio: Etarismo, cepa do vírus preconceito

Michelle Yeoh fez história como a primeira asiática ao ganhar como melhor atriz:
Michelle Yeoh fez história como a primeira asiática ao ganhar como melhor atriz: "Isso é um símbolo de esperança e oportunidade" - (crédito: Kevin Winter/Getty Images/AFP)
postado em 16/03/2023 06:00

A atriz Michelle Yeoh, 60 anos, foi ganhadora do Oscar 2023, como melhor atriz, pelo seu papel no filme "Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo" — a primeira mulher asiática nesta categoria. No recebimento do prêmio, ela surpreendeu com o seu discurso antietarismo direcionado às mulheres na sua faixa de idade: "E senhoras, não deixem ninguém dizer que vocês já passaram do seu auge".

O conselho da atriz, no último domingo, coincidiu com o vídeo deplorável protagonizado por três jovens contra a universitária Patrícia Linares, 44 anos, aprovada para o curso de biomedicina, em uma faculdade particular em Bauru (SP). As agressoras debocharam e rotularam a colega de "velha" para cursar nível superior, quando deveria estar aposentada.

As moças reconheceram o erro, mas o condenável comportamento havia reverberado nas redes sociais e nos veículos de comunicação. A manifestação de etarismo das estudantes — discriminação por idade contra indivíduos ou grupos de idosos com base em estereótipos — é qualificada como crime de injúria, com pena de um a três anos e multa, de acordo com o artigo 140, parágrafo terceiro, do Código Penal.

O nascimento é a largada rumo à velhice. Sim, pois, a cada dia, todas as pessoas envelhecem à medida que passam pelos diferentes estágios da vida: infância, adolescência, juventude, adulto e daí à fase da velhice. Essa última etapa nem sempre é alcançada por todos. O elenco de violências é tão grande que o encontro precoce com a morte ocorre em quaisquer fases da vida.

Os idosos, longe de merecer respeito, têm sido alvo de diferentes formas de violência, como humilhação, opressão psicológica, abandono, agressões físicas, subtração de patrimônio e até assassinatos, além de outras atrocidades. Os mais novos ignoram, ou se recusam a aceitar, que a ancianidade só vale para quem não morreu cedo. A todos, inexoravelmente e sem distinção, são negadas a jovialidade e a vida eternas.

Aos 40 anos ou acima dessa faixa etária, mulheres e homens não estão incapacitados ao exercício de uma profissão ou a avançar na escolaridade. Pelo contrário, são pessoas aptas à realização de inúmeras atividades, desde que tenham condições físicas e psicossociais. Aos que se encontram no grupo das exceções, deve-se, no mínimo, respeito e os cuidados necessários. A sociedade, no entanto, parece afetada por uma epidemia de preconceitos, discriminações e ações desrespeitosas, que afetam os mais diversos segmentos da população.

Além dos idosos, que representam mais de 31 milhões de brasileiros, são vítimas desses comportamentos grotescos os gordos, os baixos, os deficientes físicos, os negros, os indígenas, os gays, as mulheres, as crianças. Ou seja, há um leque de atitudes aviltantes que afeta qualquer um que não se enquadra no protótipo biotípico eurocentrista, em um Brasil caracterizado pela diversidade e pluralidade étnico-racial, cultural e religiosa. Políticas públicas, sobretudo no campo da educação, se impõem como urgentes para mudar este cenário desumano.

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