Artigo: Candangão é para poucos

Novamente entre os quatro melhores clubes do Candangão, o Capital deseja alcançar sonhos maiores como o título inédito - (crédito: Gustavo Roquete/Capital CF)

Marcos Paulo Lima +

postado em 01/04/2023 06:00

O Campeonato do Distrito Federal evoluiu na customização do evento, na comercialização dos naming rights, na massificação da transmissão em tevês estatais e canais dos clubes, na transparência da federação e de três dos 10 clubes no cumprimento da divulgação do balanço financeiro, ostenta a segunda maior premiação do país para o campeão (R$ 1 milhão) atrás do Paulistão, mas não acha solução para um velho drama estrutural do futebol da sexagenária capital: a carência de público nos estádios parece um problema sem jeito.

O número total de pagantes nas arenas do Candangão 2023 até os jogos de ida das semifinais é 23.650. O levantamento foi elaborado pelo colega especializado Rodolfo Brito do site srgoool.com.br. O colega Danilo Queiroz acrescenta que o preço médio do tíquete é R$ 11,36. O Mané Garrincha tem capacidade para 72.788 pessoas. Logo, a plateia acumulada em 47 partidas do torneio doméstico ocuparia menos de um terço da quantidade de cadeiras disponíveis na mansão do futebol da cidade. Detalhe: dos 11 duelos realizados no Mané neste ano, apenas dois são do Candangão. Os demais tiveram como mandantes times de São Paulo, Rio, Minas Gerais, Amapá, Paraíba e um da CBF, a Supercopa do Brasil entre Palmeiras e Flamengo.

Um dos argumentos para levar ao chão o velho Mané Garrincha — e erguer o atual — era de que um estádio para 72.788 pagantes contribuiria para o desenvolvimento do futebol candango. O tempo passou e nenhum clube local, incluindo o Gama, é capaz de lotar a arena erguida por R$ 1,5 bilhão. O duelo entre Portuguesa e Corinthians pelo Campeonato Paulista, realizado em Brasília, levou 26.004 pagantes ao Mané Garrincha, ou seja, pouco mais do que a plateia total do Candangão 2023.

A média de público é de 514 torcedores por partida. A melhor audiência não pertence ao clube mais popular da cidade. Sem teto devido à reforma no gramado do Bezerrão, o Gama é superado pelo emergente Capital. Semifinalista pelo segundo ano consecutivo, o time fundado em 5 de julho de 2005 achou o cantinho perfeito para atrair fãs. O público total do clube no Estádio JK, no Paranoá, é 11.251. Média de 1.875. O Gama ocupa o segundo lugar (576) seguido pelo rebaixado Brasília (558). O Brasiliense fecha o G-4 (472) do ranking.

Derrotado pelo Brasiliense no primeiro jogo da semifinal, o Capital pode provocar um esvaziamento do Candangão em caso de eliminação. O time ostenta os três melhores públicos da competição. Todos acima de 2.200 pagantes. Um deles, com pico de 3.082.

Antes de escrever, ouvi opiniões sobre a crônica falta de torcedores no Candangão. Escutei quase sempre os mesmos argumentos: falta de laudos, jogos com torcida única ou portões fechados, cobranças dos órgãos de segurança e o velho discurso da paixão por times de fora. É bem mais grave. Só temos time na Série D do Brasileirão. A última divisão do país! É assim desde 2014. Torcedor é tudo, menos bobo. Quer qualidade.