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Opinião

Artigo: É hora de olhar adiante, sem temer novas ideias

É necessário fugir de críticas sem sustentação, espargidas por emoção, que apenas dificultam o achamento de um caminho de compartilhamento e harmonia

QG do Exército, no SMU -  (crédito: Divulgação/Exército)
QG do Exército, no SMU - (crédito: Divulgação/Exército)
postado em 06/04/2023 06:00

OTÁVIO RÊGO BARROS — General da Reserva, foi chefe do Centro de Comunicação Social do Exército

Quando cruzamos a porta que nos leva ao Estado-Maior do Exército (EME), localizado no Quartel-General em Brasília, nos deparamos com a frase inspiradora do marechal Castello Branco: "Ao chefe não cabe ter medo das ideias, nem mesmo das ideias novas. É preciso, isso sim, não perder tempo, implantá-las e realizá-las até o fim".

Centenária instituição, o EME planeja e projeta as diretrizes do comandante da Força, dando-lhes concretude e alcance. Sente-se, ao percorrer os corredores daquele órgão, uma serenidade contida, que se soma a uma perene prontidão, naturais nos ambientes onde a liberdade do povo e a defesa da soberania são objeto de profunda reflexão.

Cercado de valores e tradições, herdados dos atos heroicos dos negros, brancos e índios que lutaram nas pequenas elevações dos Montes Guararapes, naquele longínquo ano de 1648, o Forte Apache reflete responsabilidade institucional.

Foi nesse local que na última terça-feira, em cerimônia singela, renovaram-se valores e tradições. O comandante do Exército despediu-se do chefe do Estado-Maior, que passou para a reserva após 48 anos de serviços.

Na referência elogiosa, o comandante descortinou os atributos de um velho soldado, representado pelo companheiro que encerrava a carreira, mas certamente pensava em todos os soldados que estão sob sua liderança. Suas palavras trouxeram à ribalta os sacrifícios diários que enfrentam homens e mulheres de farda em nome da sociedade, bem como sua confiança em alcançar os objetivos da Força como ente de Estado.

Entretanto, há um processo (des)informacional em curso, que nubla a realidade e alveja perigosamente os militares ao buscar cisalhar a coesão da Instituição. As lideranças militares estão atentas, mas entendem — eu até diria clamam — que a primeira linha de defesa dos princípios basilares da hierarquia e da disciplina, cláusulas pétreas de organização armada em nome do povo, deve ser mobiliada pelo cidadão consciente.

Some-se a essa fricção interna que tomou conta de nosso povo, crescente nos últimos anos, a mudança mundo afora das relações entre os civis e os militares. É ingênuo acreditar que a submissão do nível militar ao político, tão defendida nas nações mais amadurecidas do Primeiro Mundo, seja conferida apenas pelo fluxo top down: eu mando, você obedece.

Mesmo nesses países, recentes exemplos demonstram a necessidade de um diálogo transparente. Na França, oficiais da reserva publicaram cartas com críticas à política migratória do presidente Macron, lembrando-lhe o sangue que eles derramaram em campos de batalha a nome da liberdade, igualdade e fraternidade.

Nos Estados Unidos, muitos militares seniores imergiram nas campanhas de políticos, independentemente se democratas ou republicanos, além de serem criticados como intrusos nas decisões políticas de governo. Em Israel, oficiais de alta relevância, inclua-se o ministro da Defesa, um general testado em combate, demonstraram desconforto com as atitudes do primeiro-ministro Netanyahu de forçar modificações nas leis sobre o Poder Judiciário para benefício pessoal.

O mundo mudou. E nós, na Terra de Santa Cruz, acompanhamos essas mudanças. Por isso se peticiona atenção da sociedade. É necessário, senhores leitores, acreditar na boa intenção das lideranças militares, um exemplo está à vista no discurso do comandante já citado e colaborar na consolidação do papel institucional que as Forças sempre se dispuseram a executar.

É necessário fugir de críticas sem sustentação, espargidas por emoção, que apenas dificultam o achamento de um caminho de compartilhamento e harmonia. É necessário refletir responsavelmente sobre relações entre civis e militares, na busca de um diálogo construtivo entre o nível político e o operacional. Parece-me que estamos avançando nesses primeiros passos ao vislumbrarmos ações recentes de respeito mútuo entre os estamentos.

É preciso, como disse o marechal Castello Branco, que as lideranças não temam novas ideias, renovem posturas, busquem soluções. Cansamos do que vemos no retrovisor, é hora de olhar adiante. Paz e bem.

 


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