NULL
sociedade

Artigo: Nossas culturas

pri-3004-opiniao Opinião -  (crédito: Caio Gomez)
pri-3004-opiniao Opinião - (crédito: Caio Gomez)
Sacha Calmon
postado em 30/04/2023 06:00

Sacha Calmon - Advogado

Somos herdeiros da civilização greco-romana e da religiosidade judaico-cristã, desde o dia em que nascemos. Essas referências abrangem, certamente, toda a Europa e as Américas, seja anglófona ou latina, cujos falantes pensam em francês, espanhol e português. Entre nós, do novo mundo, além de genocídio dos índios, as comunidades negras cultuavam os orixás.

O chamado mundo ocidental — em contraposição aos povos tidos por negros, malaios e amarelos — incorpora o Oriente Médio e a Turquia. Nesse espaço geográfico e linguisticamente diversificado, há lugar para o fundo do Mar Mediterrâneo (Israel, Síria, Líbano, Arabia Saudita) e todo o norte do continente africano: Tunísia, Argélia, Líbia e Marrocos, além do Irã (Pérsia).

Nesse espaço cultural, nasceram as três religiões monoteístas (judaísmo, cristianismo e islamismo). O judaísmo tem por Deus Javé. O islamismo considera Deus, o único, Alah, sendo o sagrado Maomé (Mohamed) seu "último profeta", além dos elencados no Velho testamento. O cristianismo contém apenas os atos dos apóstolos e os quatro evangelhos, o de Marcos, Lucas, Mateus (sinóticos) e o de João. Por Velho testamento, a Torah judaica, nos é servida.

Então, não será nenhum exagero dizer que somente o cristianismo tem um Deus trino — Deus pai, (Javé), Deus filho e o Espírito Santo. O judaísmo só reconhece Javé. O islamismo apenas reconhece Alah. É, portanto, pela Trindade Teista, que o cristianismo diverge do judaísmo e do islamismo, cujos deuses são abstratos, embora Javé se proclame o Deus de um só povo (o judaico) e o islamismo se proclame universal (portador da verdade por última revelada a Maomé, o último profeta sem negar os anteriores). Nesse ponto, há perplexidade, porquanto, após as revelações (sunas) ditadas por Alah a Maomé, efetivamente cessaram os profetas, tanto no judaísmo quanto no cristianismo...

Sem tomar partido, o acima dito é um fato histórico, mas que em nada afetou o cristianismo e suas diversas seitas religiosas nem tampouco o judaísmo. Pode-se até dizer que assim é pelo fato de o islamismo ser uma fé mais nova, apareceu cerca de 700 anos após o nascimento de nosso senhor Jesus Cristo. Javé é mais antigo. O egípcio Moisés foi o seu arauto.

Nesse ponto, é indiscutível que Javé, o Deus pai dos judeus e cristãos, e Alah são um só e único Deus, diversas apenas as três religiões monoteístas (ante o todo-poderoso Deus, criador de todas as coisas).

Noutra visão, somos todos herdeiros da enorme civilização greco-romana (a antiguidade civilizacional clássica do mundo ocidental). Aqui, não se cuida de religião, mas de sociologia, ética, filosofia e história.

Há duas explicações para o surgimento de Roma, na região do Lácio, embaixo da culta região dos etruscos, na Itália mediana. Uma, a de que era um valhacouto de bandidos, roubando mulheres sabinas para formar lares e filhos. Outra, que fora uma cidade iniciada por Eneas e parte da população de Tróia, destruída pela federação das cidades gregas em razão da ida da Rainha Helena para a referida cidade por amor...

Os gregos, que hoje nada significam, nos forneceram quase todas as sabedorias da antiguidade clássica e são nossos guias desde então, na filosofia, na ética e nos relatos do historiador Homero, sem o qual aqueles tempos muito anteriores à morte de nosso senhor Jesus Cristo nos seriam ocultados. (Claro que papiros do Egito e relatos persas cooperam para o conhecimento do mundo greco-romano).

Do mundo greco-romano e judaico cristão, base do surgimento da história da antiguidade no ocidente, quem não se lembra de Aristóteles e Platão? Sem falar em Sócrates, e seu copo de cicuta, a reverberar até hoje? De Roma, o império que durou 900 anos, sem contestação, há pouco o que dizer (nossa língua é neolatina...).

A velha Inglaterra também foi invadida e dominada pelos romanos, que a deixaram por livre e espontânea vontade, chamando-a de "pérfida Albion". Lá, os lordes (os senhores de terra) falavam uma mistura do dinamarquês do rei Canuto e um falatório local; os padres, o latim; e o povo, uma algaravia que tornou-se a língua inglesa, hoje dominante, até porque não tinha declinações. (Tanto o latim romano como as línguas germânicas são declináveis). Dizem que 60% das palavras inglesas derivam do dialeto normando (os homens do norte que se estabeleceram na França após o seu chefe casar-se com a filha do Rei da França e ganhar um condado, cuja região até hoje se chama "Normandia"). Normandos ou vikings são pessoas vindas da Escandinávia.

No ano mil, os normandos da França invadiram e tomaram a chamada Grã-Bretanha (Bretanha ou a terra dos bretões), povo que habitou a Europa céltica, desde 5.000 anos antes de Cristo. Os chefiava Guilherme (o conquistador).

Os normandos, que falavam francês, depuseram todos os senhores feudais de Susex, Anglia e Escotia, mas não impuseram sua língua, além de deixar os padres falando latim nas missas. Com o tempo a passar, no ano 1300 d.C, havia o esboço do que é a língua goda mais simples e sem declinação, o inglês, hoje língua franca.

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Ícone do whatsapp
Ícone do telegram

Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br

-->