Nelcy e Juçara são senhoras encantadoras. Encantam pela simpatia, encantam pela empatia, encantam pela disposição de tornar mais suave o dia de outras pessoas. Especialmente de quem passa por dores, angústias, medo e incertezas. Elas chegam levando o colorido da alegria, o alento do afeto.
As gentis e simpáticas senhoras são contadoras de histórias. Cedem generosamente seu tempo à causa magnífica de tornar menos duros os dias de crianças e adolescentes internados em unidades de saúde. No Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib), elas vão de quarto em quarto, pedindo licença para proporcionar a pacientes e acompanhantes viagens divertidas no mundo da literatura.
Eu as conheci num dia angustiante para nossa família. Elas chegaram ao quarto empurrando suas malas de rodinha, de onde tiraram livros e começaram a ler, não sem antes perguntar aos presentes se gostariam de ouvi-las. Aval recebido, entraram em ação. Interpretaram as histórias, brincaram, incitaram a participação das crianças e de seus acompanhantes. Fiquei comovida ao ver como conseguiram sorrisos, inclusive, dos que, até então, se mostravam abatidos.
Em conversa com as duas — voluntárias da Associação Viva e deixe viver —, notei igual entusiasmo ao comentarem sobre o essencial trabalho que fazem. Juçara confessa que é dada ao sedentarismo — do tipo de ficar largada no sofá —, mas, nas visitas ao hospital, passa duas horas seguidas em pé, contando histórias. E nem sente cansaço — me assegurou. Ela também falou de sua tristeza ao interromper a atividade durante a pandemia da covid-19. "Quando voltei, chorei de emoção."
Para Nelcy, poder oferecer momentos de descontração aos que tanto precisam faz bem, principalmente, para ela. "Eu me sinto leve, é muito gratificante", disse.
Nem todos, porém, se dispõem a ouvi-las, e isso está longe de magoá-las. "Há crianças que preferem ficar vendo o celular, não querem que a gente conte histórias. E nós respeitamos, claro. Sempre digo que esse é o único 'não' a que elas têm direito num hospital", justificou Nelcy.
A gente acabou a rápida conversa, e elas se foram, para o próximo quarto. Prosseguiram na missão de amenizar a aflição de mais pessoas, como fizeram com a minha e a da minha família. Que Deus abençoe as duas e as mantenha saudáveis e dispostas, espalhando alegria. Da minha parte, fica uma imensa gratidão.
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