A curiosidade matou o gato, diz o ditado. Talvez essa seja uma simplificação popular para explicar por que nos aventuramos rumo ao desconhecido, mesmo diante do risco. Somos curiosos mesmo ou estamos procurando surtos de adrenalina para animar essa vida besta que levamos por aqui? Falta emoção, mas talvez a gente esteja indo buscar nos lugares errados.
Penso sobre isso enquanto leio tantos e tantos comentários sobre as possíveis motivações que levaram milionários a entrar num cubículo pouco confiável e mergulhar mar abaixo para explorar visualmente destroços de um navio épico chamado Titanic, glorificado por um naufrágio romantizado em filme.
A trágica aventura tem sido vista sob diversos prismas. Das investigações sobre possíveis causas da implosão da engenhoca aos julgamentos repetidos que resumem a viagem a "não tem o que fazer com o dinheiro". É bem verdade que fica difícil pensar em outra coisa. Se tivessem perguntado a nós, teríamos muitas ideias a sugerir, inclusive usar em prol do planeta ou para aplacar a fome dos pobres.
Mas se tivesse dado tudo certinho, talvez a expedição suscitasse apenas a vontade de outros a se meter na mesma alucinação de viver uma grande aventura, seguido de um "ah, se eu tivesse dinheiro, também ia...". Embarcar num foguete para brincar de astronauta possivelmente seja mais seguro e já tem muito candidato por aí. A especulação é livre.
Discorrer sobre o que pensavam os outros depois que tudo deu errado é bem próprio do ser humano. Sonhar com o que não vemos, não tocamos, não conhecemos, também. Julgar a vontade do outro, qualquer seja ela, é daqueles ímpetos que a gente tem sempre. Mas tenho procurado me controlar. Existe dor e vazio existencial em todo ser que caminha ereto por aí. Rico ou pobre, a pessoa segue é em busca de si. E não há limite para quem quer se encontrar.
Tantos de nós fazem loucuras. De entrar em uma viagem lisérgica a escalar uma montanha de neve até o topo. Com ou sem braços e abraços de segurança, de vez em quando, a gente solta os laços que nos prendem à vida terrena. A verdade é que as coisas maiores estão por aqui mesmo, bem ao alcance da vista. Mesmo quando a gente não se dá conta. Nosso dia a dia tem sido uma aventura inesgotável — para muitos, a sobrevivência já é a aventura. Não podemos nos esquecer disso.
Tive uma semana de imersão em um programa de gestão empresarial para lideranças: APG Amana-Key. Aprendi, ouvi e vivenciei muitas coisas legais. Entre as inúmeras lições, ficou também a voz de Sebastião Zumbi, o líder comunitário que criou uma moeda ecológica, o mangue, para conscientizar a população sobre a reciclagem em Cubatão. Para Zumbi, o trabalho comunitário é uma chave para a realização de sonhos — os palpáveis, reais e coletivos.
Talvez a nossa maior aventura seja olhar para a realidade e descobrir que há muitos meios de dar sentido à nossa caminhada por aqui. O fundo do mar ou as galáxias distantes podem nos fornecer respostas também, inclusive científicas, mas é incalculável o que podemos ganhar mantendo o pé no chão.
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