Em tempos de holofotes voltados para Marta, jogadora recordista de prêmios de melhor do mundo da Fifa com seis troféus; e a bicampeã olímpica e atual número 3 do planeta Pia Sundhage, técnica de uma Seleção Brasileira pressionada a conquistar o primeiro título na Copa do Mundo Feminina, recomendo à delegação concentrada em Brasília ler ou assistir a reflexão de um dos maiores tenistas da história antes da missão na Austrália e na Nova Zelândia, de 20 de julho a 20 de agosto.
Aos 64 anos, John McEnroe foi convidado a fazer o discurso da abertura de temporada para a turma de 2023 da Universidade de Stanford, em Palo Alto, Califórnia, Estados Unidos. A lenda esteve lá no último dia 18 de junho. A apresentação durou 20 minutos. Está registrada no YouTube e no site da academia: www.stanford.edu. Tetracampeão em Wimbledon e no US Open, o estadunidense é o único homem a ostentar, simultaneamente, o primeiro lugar no ranking de simples e duplas.
Fio desencapado, era um dos atletas mais temperamentais do esporte. Árbitros, raquetes e os adversários sofriam com os surtos de quem pertence ao hall da fama da modalidade desde 1999.
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Nada como a experiência e o tempo para alcançar a sabedoria e ministrar mais do que uma aula inaugural. McEnroe dá lição de vida a todos nós. "No esporte, sempre se ouve a frase: 'vencer é tudo'. Mas, na realidade, não é. As perguntas que você deve responder são: 'Eu estou melhorando como pessoa?' e 'O que eu estou fazendo está trazendo felicidade a mim e a quem está ao meu redor?'. As respostas dirão se você está realmente vencendo", provoca o tenista.
Um outro trecho do discurso merece aplausos de pé. "Em 1980, Björn Borg e eu disputamos a que foi considerada uma das melhores finais de Wimbledon em todos os tempos. Depois de 3h53min de tênis seriamente intenso, eu perdi em cinco sets. É claro que eu queria ter vencido. Dei tudo o que eu tinha, mas não trocaria aquele momento por nada", emociona-se McEnroe.
Ele justifica o motivo: "A verdade é que a maioria das pessoas não se lembra de quem ganhou aquele jogo. E não se importa. Uma vez, eu tive o privilégio de encontrar o grande Nelson Mandela. Ele me contou que ouviu aquele jogo em um pequeno rádio na cela, em Robben Island. E que a prisão inteira não desgrudou de nenhum ponto do jogo", testemunha aos acadêmicos.
A conclusão de McEnroe é: "O fato de termos dado a Mandela um breve alívio no inferno angustiante de 27 anos de prisão política significou mais para mim do que qualquer prêmio que ganhei. A lição aqui é que você não precisa vencer para ser parte de algo mágico".
Que Marta, Pia, a Seleção, eu e você respondamos às perguntas da brilhante aula inaugural na Universidade de Stanford, desfrutemos os jogos da Copa e da vida e aprendamos a ser parte de algo mágico. Obrigado, John McEnroe!
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