Pode soar impensável para as gerações atuais, mas alguns leitores mais antigos certamente vão se lembrar: houve um tempo em que médicos, cientistas e órgãos de saúde atestavam a segurança no uso do tabaco. Sim, o hábito de fumar, hoje obviamente nocivo e um dos principais causadores de câncer nas pessoas, era considerado perfeitamente seguro até para grávidas. Pois é possível que, em breve, um dos costumes mais regulares dos dias de hoje, o de consumir alimentos com adoçantes que substituem o açúcar, seja visto pelas gerações futuras também como impensável.
O motivo é o anúncio de que um dos adoçantes artificiais mais populares e comuns do mundo, o aspartame, está prestes a ser classificado como "possivelmente cancerígeno para humanos" pela Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC), um órgão vinculado à Organização Mundial da Saúde (OMS). A expectativa é de que a definição oficial da substância seja anunciada no próximo dia 14, após uma abrangente revisão de 1,3 mil estudos científicos sobre o adoçante. O Comitê Conjunto de Especialistas em Aditivos Alimentares da OMS e da Organização para Agricultura e Alimentação (JECFA) também emitirá um documento sobre o uso de aditivos alimentares na mesma data, que deverá complementar o anúncio da IARC.
Facilmente encontrado em produtos das gôndolas do supermercado, como os refrigerantes com zero caloria, e consumido por uma enorme parcela da população, o aspartame vem sendo classificado como seguro desde a década de 1980. A confirmação de que ele provavelmente é cancerígeno levanta uma série de preocupações legítimas e acende diversos alertas para governos e autoridades de saúde.
O principal problema é que faltam informações seguras sobre os produtos que consumimos e seus potenciais impactos em nosso organismo. O aspartame é apenas um exemplo de substância que pode estar sendo ingerida de maneira constante sem que tenhamos conhecimento adequado dos riscos envolvidos. Por isso, esta situação, apesar de preocupante, também pode ser uma oportunidade para uma revisão minuciosa de nossas políticas de segurança alimentar.
Antes de tudo, é fundamental que a indústria de alimentos e bebidas assuma a responsabilidade de informar adequadamente os consumidores sobre os ingredientes utilizados em seus produtos. As embalagens devem fornecer informações claras e precisas sobre os possíveis perigos associados ao consumo de aspartame e outros aditivos alimentares, já sob a nova determinação a ser anunciada, permitindo assim que cada indivíduo tome decisões informadas sobre sua alimentação.
Em paralelo, o Ministério da Saúde precisa liderar uma grande ação de conscientização sobre os riscos potenciais do aspartame. Também é necessário que a comunidade médica, pesquisadores e entidades como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) façam uma ampla reavaliação das classificações de todas as outras substâncias adoçantes de uso regular, e de outros aditivos alimentares usados comumente na indústria e nos chamados alimentos ultraprocessados.
A população precisa ter o direito de saber o que está colocando em seus corpos e quais são os possíveis efeitos dessas substâncias a longo prazo. O risco de possíveis danos à saúde não pode mais ser ignorado, e a hora de ação é agora.
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