Estremecidas desde a gestão do ex-presidente Donald Trump, as relações entre Estados Unidos e China estão entre os principais focos de tensão do mundo hoje e no seu ponto mais baixo desde 1979, quando os dois países estabeleceram contato formal. Atual ocupante da Casa Branca, Joe Biden não tem feito esforços para resolver a situação. Pelo contrário: em junho, ele chamou o presidente chinês Xi Jinping de “ditador”, o que gerou um mal-estar com o governo chinês. A mais recente pancada de Biden veio na última quinta-feira, durante um evento de arrecadação de fundos para a campanha de 2024 — ele é candidato à reeleição — no estado de Utah. “A China é uma bomba-relógio em muitos aspectos. Eles estão com problemas. Isso não é bom, porque quando caras ruins têm problemas, eles fazem coisas ruins”, disse Biden, em uma frase que foi obviamente mal recebida em Pequim.
A atitude repetida de Biden termina de jogar por água abaixo os esforços da diplomacia norte-americana de retomar uma normalidade na relação com a China. Em junho, três dias antes de o presidente chamar Jinping de ditador, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, esteve em Pequim para um diálogo com o governo chinês. O trabalho, que tinha como objetivo tentar passar uma borracha no episódio do balão espião — a China alega que era um equipamento meteorológico — derrubado pela Força Aérea dos EUA em fevereiro, não durou 72 horas.
Hoje, os dois países passam por dificuldades econômicas. Os EUA enfrentam uma inflação que persiste apesar dos esforços do Federal Reserve, o banco central americano, enquanto a China vive uma retração da sua economia interna, com a maior queda recente na sua balança comercial e a previsão de um PIB de 5% — pouquíssimo para os padrões chineses. Ou seja, era o momento de diálogo, entendimento mútuo, esforços conjuntos e uma colaboração construtiva entre Pequim e Washington, para enfrentar com maturidade os problemas econômicos que estão se impondo diante do mundo.
Mas, ao que tudo indica, a eleição de 2024 dos EUA se dará mesmo entre Biden e Trump, mesmo com o segundo enrolado até o último fio de cabelo com a Justiça norte-americana. Qualquer que seja o resultado, é possível que o tom ríspido e, de certo modo, beligerante contra a China seja mantido pelos Estados Unidos, o que é uma péssima notícia para o resto do planeta, já que um acirramento nas relações entre os dois países carrega consigo riscos substanciais para todo o mundo.
Primeiramente, vale ressaltar a imensa dependência econômica que as duas maiores economias globais têm uma da outra. Uma escalada de hostilidades comerciais poderia resultar em impactos negativos em cadeia, afetando não apenas os dois países, mas reverberando em todas as partes do globo, inclusive no Brasil. Além disso, o aspecto geopolítico não deve ser subestimado. A China tem aumentado sua influência em regiões como a África e a Ásia, por meio do projeto da Nova Rota da Seda, promovendo parcerias econômicas e infraestruturais. Um confronto direto e aberto com os Estados Unidos poderia levar a uma divisão do mundo em esferas de influência rivais, em uma versão 2.0 da Guerra Fria, aumentando a instabilidade global e prejudicando a cooperação internacional em questões cruciais, como a paz e a segurança — principalmente diante do acirramento da questão de Taiwan, que a China considera como uma província rebelde, e os EUA, como aliados.
Diante da briga entre gigantes, resta aos demais países torcer para que os esforços diplomáticos prevaleçam na relação entre China e Estados Unidos, e que o ocupante da Casa Branca – seja ele quem for – não atrapalhe. Para o resto do mundo, já seria um alívio.
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