DURVAL RIBAS FILHO
Nas últimas décadas, bem-estar e qualidade de vida tem sinalizado elos ainda mais fortes. Passou-se a ter um olhar mais atento à saúde, não só centrado nos cuidados curativos, mas também nos preventivos, numa perspectiva que se consolida em várias especialidades e conquista um crescente número de adeptos. A esta mudança se somam as inovações científicas e tecnológicas que conduziram a uma nova dinâmica no ensino e aprendizado da medicina.
Esse cenário aumentou, ainda, a exigência da formação de profissionais mais capacitados, não apenas numa matriz de clínica geral, mas subespecializações que possam prover um conhecimento mais direcionado para determinadas áreas e que tragam complementariedade em suas carreiras.
A busca por uma melhor qualificação — em pós-graduações e MBAs — também se adequou a uma demanda, cada vez maior, por tratamentos que necessitam de equipes multidisciplinares. Esta atuação exige dos profissionais uma constante evolução para aprimorar seus conhecimentos técnico-científicos e desenvolver as chamadas habilidades socioemocionais, que têm se tornado essenciais em diversas profissões, e na saúde não é diferente. É um caminho para se abrir novas frentes na exploração de áreas médicas e especializações, nos consultórios, clínicas ou hospitais.
Neste universo, em constante mutação, a Nutrição Médica tem despertado interesse de endocrinologistas, ginecologistas, pediatras, médicos do esporte, geriatras, criando um leque de possibilidades no atendimento integrativo para os pacientes e familiares. Esta postura é fundamental no apoio a vários tratamentos, quando obesidade e todas as comorbidades desencadeadas a partir dela são uma preocupação global. Hoje há milhões de pessoas com excesso de peso e que necessitam de diagnóstico, medicação e cuidados não apenas físicos, mas acolhimento emocional.
Este cenário me faz retomar uma reflexão como médico, nutrólogo e presidente a Associação Brasileira de Nutrologia (Abran): a implantação da disciplina de nutrologia nas faculdades de medicina do Brasil, que seria ministrada por médicos especialistas na área, num programa básico e adaptado às regiões diferentes de um país continental como o nosso. Seria um avanço extraordinário e traria a oportunidade a estes jovens médicos de ampliarem seus horizontes em patologias de alta gravidade, seja por excesso ou falta de alimentação.
Vale lembrar que a nutrologia se desenvolveu do avanço de muitas disciplinas clínicas. Sua história vem do reconhecimento de deficiências nutrológicas, agudas e crônicas, em pacientes que poderiam receber melhor atendimento, caso fossem direcionados a nutrólogos, médicos habilitados no reconhecimento e manuseio de tais deficiências.
O ensino de nutrição médica apresentou grande impulso após a publicação por Charles Butterworth, em 1974, do artigo “The Skeleton in the Hospital Closet”. Até então, os países desenvolvidos associavam doenças nutricionais apenas a países subdesenvolvidos. Segundo alguns editoriais de revistas cientificas da época, este artigo "O Esqueleto no Armário do Hospital” abalou a instituição médica, com observações dramaticamente documentadas do que ficou conhecido como desnutrição hospitalar.
Após mais de quatro décadas, o panorama ainda é sombrio, diante do contínuo avanço da obesidade e as comorbidades desta reconhecida doença crônica, que atinge números alarmantes em todo o mundo. No outro extremo cresce a desnutrição, ambos problemas de saúde pública. A introdução obrigatória do ensino da Nutrologia tem como objetivos ampliar o conhecimento dos futuros médicos, com base em atuais evidências científicas sobre a disciplina, com foco no diagnóstico, tratamento e capacitação profissional, facilitando o acesso da população a nutrólogos habilitados e com domínio específico da área.
É uma carência que pode ser sanada e que trará benefícios para milhões de pacientes de todas as faixas etárias e classes sociais.
DURVAL RIBAS FILHO, médico, nutrólogo e endocrinologista, pelo Conselho Federal de Medicina, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran)
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