Na periferia da Brasília moderna, um trem acelerado atropela um ônibus lotado, mata uma mulher e fere outras 10 pessoas que vão parar no hospital. Numa escola pública dessa mesma cidade, crianças encontram larvas passeando sobre o arroz no prato, rejeitam a comida e se assustam. Em uma outra escola, um professor/policial conduz um aluno autista de forma violenta, fratura o braço dele e causa um trauma na família. Na tela da tevê, o repórter mostra a cara amassada de um policial que tinha cargo de chefia, e o utilizava para chantagear e perseguir a amante, que o denunciou.
Nesta mesma Brasília moderna, uma macabra estatística confirma 679 casos de estupros contra mulheres, segundo a Delegacia da Mulher. O menu de ofertas perigosas e assustadoras à sociedade vem num crescendo preocupante. É fácil deduzir que alguma coisa acontece de errado na nossa cidade, quando o assunto é gestão pública. Algo errado com a responsabilidade e a capacidade para gerir e administrar entidades.
Ganha uma passagem para a Lua quem apontar, com segurança, quais as medidas adotadas pelas autoridades responsáveis por esses "eventos", e quais os resultados delas. Neste novo mundo cibernético em que vivemos, fotografados e filmados em tempo integral, a cores e em todas as dimensões, não há como não se surpreender com a versatilidade e a coragem com que muitos afoitos e atrevidos ainda se arvoram em desafiar as armas que a verdade absoluta insiste em prevalecer. E vai prevalecer.
A velocidade dessas ações punitivas é proporcionalmente inversa à velocidade e à frequência como essas coisas acontecem. No caso do acidente que envolveu um ônibus e o trem, conforme falamos acima, as informaçõe s que chegam a todos nós é de causar espanto. Segundo a fiscalização, no local não pode ser instalado uma cancela que poderia ser acionada quando o trem passasse. Ou seja, quem passar de carro pelo local, hoje, deve se ater apenas às sinalizações de trânsito. Nenhuma autoridade consegue explicar, e muito menos convencer alguém, que essa medida é a mais correta. A construção de um túnel, ou de um viaduto, no local seria o mais sensato. Até que ali aconteçam mais acidentes, e mais pessoas se machuquem, fica tudo como está, ou pior.
Incrível a lentidão e a cansativa burocracia que as autoridades seguem na apuração desses fatos, atitudes que resvalam na provocação e na total falta de consideração com a comunidade. Atenta, a imprensa registra tudo, acolhe as denúncias das pessoas prejudicadas e torna público as fragilidades técnicas de muitos profissionais que deveriam ser mais cautelosos e eficientes em suas atitudes. Modernidade, além de exibida, deve ser demonstrada.
Um trem de carga, atropelar um ônibus cheio de passageiros, em plena capital da república nos arremete para absurdas situações, quase que injustificáveis, e ridículas. Considerar um fato como este, na capital da república, como um fato normal, um acidente comum causa estranheza e preocupação. A mesma ferrovia, por onde transitava o trem acidentado, atravessa outras regiões, igualmente habitadas e com as mesmas condições de sinalização. Ou seja, o risco permanece, e não há por parte do Governo do Distrito Federal, nem de nenhum órgão do Governo Federal, nenhuma indicação que sinalize algum tipo de providência. O risco permanece, e vai continuar.
Escola pública, ou escola alguma, pode servir lanche às crianças com larvas passeando sobre o arroz. Policial que se vale do cargo para chantagear e assediar qualquer mulher tem de ser punido, com rigor na forma da lei. Não estamos mais nos tempos das diligências, carruagens não existem mais, e a energia vem de outras fontes, e não mais das quatro patas dos cavalos.
Há que se fazer alguma coisa mais competente e rigorosa para que se melhore e se dê mais condições às pessoas responsáveis pela gestão pública. Casos bisonhos e absurdos como esses aqui relatados não podem mais acontecer com tanta frequência e serem aceitos com a perniciosa e costumeira atitude do cidadão que pratica o lema do deixa estar, pra ver como é que fica. A palavra é gestão pública. Única ação verdadeiramente capaz de direcionar a opinião pública ao rumo que ela deve seguir. Estamos carentes nesse item, mas ainda há esperanças. Claro que sim.
* José Natal é jornalista
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