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Comunicação

Guerra e desinformação turbinam disputa ideológica nas redes sociais

As redes de desinformação e difamação, por meio de milhares de versões fantasiosas, narrativas falsas e fake news, difundem também o medo e a insegurança para influenciar o pensamento e as decisões

A conclusão faz parte do estudo A agenda antiglobalista, realizado pelo Núcleo de Integridade da Informação (NII), da agência Nova -  (crédito:  AFP)
A conclusão faz parte do estudo A agenda antiglobalista, realizado pelo Núcleo de Integridade da Informação (NII), da agência Nova - (crédito: AFP)
postado em 15/12/2023 06:05

A guerra entre Israel e Hamas acontece, também, nas redes sociais, com requintes de estratégia militar, além de táticas pesadas de artilharia e comunicação, com intuito de turbinar a crescente agenda antiglobalista. A conclusão faz parte do estudo A agenda antiglobalista, realizado pelo Núcleo de Integridade da Informação (NII), da agência Nova.

Como é de costume nas redes sociais, as narrativas distorcem os fatos e seus personagens, criando roteiros para sustentar uma determinada crença. Um dos perfis analisados nesse estudo, por exemplo, cita o DJ Juarez Petrillo, pai do DJ Alok, como um "brasileiro globalista que planejou a rave Universo Paralelo". O post sugere, ainda, que ele teria facilitado o ataque do Hamas que matou 260 pessoas nessa festa e alcançou 28 mil visualizações.

Outro post diz que "as pessoas bonitas globalistas de Hollywood" e a "galerinha do Epstein" (referência ao milionário preso por exploração sexual) apoiam Israel. O mesmo perfil compartilha mensagens como "o lixo de Hollywood apoia o genocídio de civis".

Na escalada das conspirações, aparecem publicações sugerindo que "globalistas", como o investidor e filantropo George Soros, coordenam e financiam manifestações em apoio ao Hamas.

Esse estudo aponta que a desordem da informação é mais um desserviço à sociedade. As redes de desinformação e difamação, por meio de milhares de versões fantasiosas, narrativas falsas e fake news, difundem também o medo e a insegurança para influenciar o pensamento e as decisões das pessoas e da sociedade.

Nessa batalha digital, a retórica antiglobalista combina temas complexos (pauta ambiental, renda básica universal e moeda única, por exemplo) com versões típicas da lógica terraplanista. Os posts analisados apontam três narrativas principais para associar o conflito aos governos ditos globalistas e confirmam uma disputa de narrativas ideológicas nas redes: a) Os países globalistas, a grande mídia globalista e a esquerda atacam Israel para defender o Hamas; b) Israel é um Estado globalista; e c) Globalistas incentivam o conflito dos dois lados.

As narrativas presentes no estudo, apuradas no período de 7/10 a 7/11, apontam Israel tanto como agente do globalismo, quanto como vítima de governos globalistas, como os da Rússia e da China. A classificação de países globalistas varia de acordo com a perspectiva ideológica do perfil analisado. O conceito recai em Estados Unidos, França, Israel, bem como Rússia, China e Irã, ou até em um suposto globalismo dinástico europeu.

Fazendo um contraponto ao termo globalização, hoje consolidado como forma de organização da atual ordem internacional, o globalismo é utilizado por ativistas digitais, geralmente identificados à extrema direita (e uns poucos de esquerda que são críticos da globalização) para questionar a atual estrutura política e econômica mundial, inspirada numa pauta nacionalista e xenófoba.

O levantamento coletou 50.940 menções aos termos globalismo ou nova ordem mundial, publicadas no X/Twitter, Facebook, Instagram e Youtube, no período de 18/6 a 17/09, e analisou manualmente 1.900 publicações, sendo 1.000 delas sobre globalismo em geral (18/6 a 17/09) e 900 relacionadas a Israel, Gaza e Hamas, postadas entre 7/10 e 7/11.

As 50.940 menções, da parte 1 do estudo A agenda antiglobalista, alcançaram 53,5 milhões de perfis e geraram 33,2 bilhões de impressões.

Outro termo que aparece com frequência nas postagens analisadas com o recorte antiglobalista é a nova ordem mundial ou NOM.

O estudo identificou cinco narrativas principais relacionadas ao globalismo e NOM: Pandemia e vacinas são armas biológicas a favor da redução populacional; Moeda única mundial e Agenda 2030 são um plano perverso; Anticristianismo e papa Francisco servem ao globalismo; Alterações nos alimentos serve para subjugar a população; e Agenda ambiental é neocolonialismo norte-americano.

A capilaridade das redes e a capacidade de mutação das narrativas falsas estão dando musculatura para a prática dessa desinformação. E esse cenário sinaliza que a construção de conceitos como globalismo pode continuar provocando tantas perdas quanto a guerra.

*Marcus Di Flora é historiador e analista chefe do Núcleo de Integridade da Informação da agência Nova

 

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