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A imoralidade, a falta de ética e o descompromisso com o bem-estar social não deveriam fazer parte da política. Assim como políticos imorais, arrogantes, corruptos ou desprovidos de empatia com o sofrimento alheio deveriam ser tolhidos da vida pública. A política foi engolida pelo carreirismo, dilapidada pela ditadura do ego. Alguns líderes se aferram ao poder porque parecem se nutrir dele e dos prestígios que lhes confere. Pouco se importam com o eleitor, exceto às vésperas das eleições. Política deveria ser um dom, um chamado, uma missão de vida, um propósito altruísta. Afinal de contas, quem a exerce lida com vidas, muitas vezes imersas na miséria e na descrença de dias melhores.
De forma maquiavélica, alguns políticos se revestem de características despóticas. Pensam estar acima do bem e do mal. Em tempos de pandemia, recusam-se a visitar hospitais ou a lutar pelas vacinas; se afastam da ciência e quase se tornam curandeiros, ao receitarem falsas esperanças; tripudiam sobre a morte, quando deveriam prezar pela vida. Não são coveiros, mas, também, se esquecem de ser presidentes. Atentam contra a democracia e o Estado de direito, ao propagarem ódio, cizânia entre poderes e desrespeito às urnas. Confundem-se com o próprio Estado, ao levarem para casa documentos secretos que pertencem ao Executivo. Tentam manipular a votação, em uma manobra para reverter a derrota nas urnas.
O que leva uma nação forjada por séculos de democracia e considerada baluarte das liberdades civis a permitir que um ex-presidente indiciado por vários crimes dispute um novo mandato? E o pior: o que leva o seu povo a dar a ele mais um voto de confiança? Donald Trump lidera as pesquisas e, depois da desistência de Ron DeSantis, no último domingo, tornou-se mais favorito do que nunca para retornar à Casa Branca. A despeito de todo o dilema moral e ético, o seu caminho até a Presidência parece escancarado. A incógnita está no depois da posse, em 20 de janeiro de 2025. Em um cenário hipotético, se Trump for condenado durante o seu governo, os EUA mergulharão numa crise constitucional sem precedentes, com um presidente criminoso.
No Brasil, a extrema-direita não esconde o entusiasmo ante o provável regresso de Trump ao poder. Afinal, o magnata foi adotado pelo bolsonarismo quase como um padrinho político. Seguidores do ex-presidente brasileiro repetiram a cartilha dos simpatizantes do ex-presidente americano. Os dois lados mostraram completo desprezo pelo Estado de direito. A lição que se pode extrair do "renascimento" de Trump é a de que a responsabilidade pelo caos paira no próprio voto do cidadão. Saber votar é crucial. Escolher candidatos que tenham a moral, a ética e o compromisso com o bem-estar social deveria ser regra, não exceção. O resto é receita para o desastre.
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