Urbanismo

As pontes facilitam a mobilidade em Brasília

As relações ficaram dificultadas pela construção da barragem do Lago Paranoá. Isso obrigou a administração a fazer construções para ligar os locais e facilitar a circulação de pessoas e veículos de um lugar para outro.

opiniao 2401 -  (crédito: Caio Gomez)
opiniao 2401 - (crédito: Caio Gomez)

ALDO PAVIANI geógrafo e professor emérito da Universidade wde Brasília (UnB)

A cidade que nasceu compacta com o projeto do Plano Piloto do urbanista e arquiteto Lucio Costa se espraiou antes mesmo da inauguração de Brasília, em 21 de abril de 1960. Taguatinga surgiu em 1958 para que os operários e o pessoal do escalão inferior do governo federal tivessem um lote e construíssem moradia. Agora, são mais de 30 núcleos, pouco conectados entre si, mas profundamente ligados ao núcleo central. Esses núcleos — cidades-satélites — passaram a ter a denominação do governo local de regiões administrativas (RAs).

As relações ficaram dificultadas pela construção da barragem do Lago Paranoá. Isso obrigou a administração a construir pontes para facilitar a circulação de um lugar para outro. O lago, segundo se afirmou inicialmente, foi formado para umidificar a cidade, mas isso se perde na atmosfera e pouco influiu na umidificação das RAs, algumas muito distanciadas do lago e do Plano Piloto. Gama, Planaltina e Brazlândia localizam-se, respectivamente, a 42 e a 55 quilômetros do núcleo central. Ao passar dos anos, com núcleos urbanos distanciados do centro e entre si, eles se beneficiaram com as pontes porque vieram facilitar o ir e vir em todo o DF. Hoje, essas pontes são indispensáveis.

A disposição das pontes facilitou a mobilidade, sobretudo para os que têm trabalho no Plano Piloto e dependem de transporte público, metrô ou ônibus. O DF não tem trem suburbano ligando os 35 núcleos existentes. Algumas pontes foram construídas para diminuir o percurso — como a Ponte JK para os que moram no Lago Sul, nas proximidades da Ermida Dom Bosco e condomínios mais afastados. A Ponte do Bragueto é continuidade de rodovia federal e desemboca no Eixo Monumental. Ela facilita quem se desloca de Sobradinho, Planaltina e Planaltina Goiás (Brasilinha) em direção ao Plano Piloto entrando pela extremidade norte do Eixo Rodoviário e vice-versa.

A Ponte das Garças foi de grande importância para a ligação entre o Plano Piloto e o Lago Sul e, por extensão, com todos os condomínios da área da região Dom Bosco ou mais distantes. Essa ponte facilita a ida do Plano Piloto ao Centro Comercial Gilberto Salomão e, em sentido inverso, do Lago Sul ao núcleo central e às cidades-satélites, colaborando com a fluidez do tráfego. Portanto, onde não havia nada, a não ser algumas fazendas distantes de tudo, elas se viram envolvidas com a migração intensa de pessoas e de instituições ligadas ao governo federal instaladas nessa área.

As pontes facilitam a mobilidade em Brasília e se tornaram imprescindíveis, pois têm função econômica e social, que não é apenas levar objetos de um lado a outro, mas para encurtar o caminho de pessoas para buscar serviços ou realizar empreendimentos do outro lado. Daí ser a ponte essencial para as pessoas. Muitas cidades têm pontes historicamente importantes. Só para citar poucos exemplos, todos sabem ou já viram cartões-postais com a Ponte de Londres, que é um marco para a cidade britânica, pois foi bem construída e tem representação histórica, objetos de narrativas e de filmes contando o que por ela já havia passado e as atitudes de seus personagens. A ponte sobre o Rio Arno tem as casas da Ponte Vecchio em Florença, na Itália, e é larga o suficiente para ter moradias desde muito tempo.

As mudanças econômicas, ambientais e sociais que ocorreram em centro urbano a partir da construção de pontes são da dinâmica urbana, pois os núcleos vão se adaptando às circunstâncias e às demandas das respectivas populações, empresas e instituições. Brasília é cidade moderna com capacidade de se atualizar aos ciclos que apontam o futuro. E há muitas mudanças que ainda não se podem vislumbrar, pois são quase imperceptíveis no cotidiano. Todavia, nada pode interferir ou modificar o Plano Piloto, pois ele é o centro histórico e Patrimônio da Humanidade, estabelecido pela Unesco em 1987. No sentido mais amplo, considera-se que Brasília ampliou a faixa demográfica do país, jogando para o oeste até as fímbrias sul da Amazônia. Igualmente, o Plano constitui o centro de tudo o que foi esmeradamente pensado para abrigar as instituições federais no passado, na atualidade e nos tempos vindouros.

Brasília é moderna e tem capacidade de se atualizar nos ciclos que apontam o futuro. Há muitas mudanças que ainda não se vislumbram, mas que vão acontecer. Contudo, nada pode interferir ou modificar o Plano Piloto, que foi esmeradamente pensado para ser a sede do governo federal, como foi referido, para abrigar as instituições indispensáveis do governo para os tempos vindouros. E assim será, esperemos. 

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postado em 24/01/2024 06:00
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