Música

Artigo: Arauto da alegria

Segundo Davi Moraes, a exposição proporciona uma viagem ao tempo, por levar as pessoas para épocas passadas, quanto muitas coisas aconteceram na vida do pai

2019. Crédito: André Fofano/Divulgação. Cultura. O cantor Moraes Moreira. -  (crédito: AndreFofano/Divulgacao)
2019. Crédito: André Fofano/Divulgação. Cultura. O cantor Moraes Moreira. - (crédito: AndreFofano/Divulgacao)

Na estada recente no Rio de Janeiro, fui ao Museu Histórico da Cidade, localizado na Gávea, bairro da Zona Sul carioca, para apreciar a exposição Mancha de dendê não sai, que celebra as cinco décadas da carreira de Moraes Moreira, um dos criadores do Novos Baianos, grupo responsável por relevante legado para a música popular brasileira.

Idealizada pela produtora cultural Fernanda Bezerra e pela cenógrafa Renata Mota, que também assina a direção de arte e a curadoria do projeto, a mostra foi instalada, anteriormente, em Salvador, sendo vista por 25 mil pessoas. Aos visitantes, chama a atenção o violão que o cantor e compositor utilizou nos últimos 40 anos, em ensaios, shows e para compor — restaurado, mas sem apagar as marcas do uso e do tempo, que caracterizam o instrumento.

Segundo Davi Moraes, a exposição proporciona uma viagemno tempo, por levar as pessoas para épocas passadas, quando muitas coisas aconteceram na vida do pai. O artista teve formação musical moldada pelo serviço de alto-falante instalado na praça central de Ituaçu, cidade natal no interior da Bahia, onde escutava gêneros diversos. Não por acaso, o segundo disco solo dele teve como título Alto-falante.

Cecília Moraes, a Ciça, destaca os dotes literários do pai, outro item expositivo, que tem como maior representatividade um caderno com anotações e composições, no qual há o rascunho da letra de Pombo correio. A marchinha lançada por Moraes no carnaval de 1975, no trio elétrico de Dodô e Osmar, durante desfile pelas ruas de Salvador, o levou a ser visto como o "primeiro cantor de trio" e a determinar o início da carreira individual.

Mas, mesmo sendo autor da letra de algumas das canções do seu repertório, a maioria delas não recebeu a assinatura dele. A de Mancha de dendê não sai, por exemplo, foi escrita pelo poeta paranaense Paulo Leminski. Não custa lembrar que, no Novos Baianos, o principal letrista era Luiz Galvão.

Para reforçar essa informação, em Marca de dendê não sai, que fica em cartaz até 12 de fevereiro, há depoimentos de alguns dos parceiros, além de áudios das músicas, que mostram o ecletismo do compositor, misturando gêneros como samba, choro, frevo, baião e rock.

Tem mais: para reverenciar a obra de Moraes Moreira, a Sony acaba de disponibilizar nas plataformas digitais 11 álbuns — verdadeiras preciosidades — ainda inéditos no streaming. Trata-se de um cancioneiro marcante, gravado na antiga CBS, entre 1984 e 1991, por esse arauto da alegria. Entre esses discos, há os que trazem músicas voltadas para o carnaval — festa que em breve vai tomar conta das ruas do país —, entre as quais Bloco do prazer, Carnaval em cada esquina, Chame gente, Festa do interior, Vassourinha elétrica e a citada Pombo correio.

Moraes Moreira se apresentou em Brasília várias vezes, sozinho, ao lado do filho, Davi Moraes, e com o Novos Baianos, em locais como AABB, Ginásio Nilson Nelson, Teatro da Caixa e Centro Cultural Banco do Brasil. Mas foi no Clube do Choro onde mais fez show. Assisti a quase todos e tive o privilégio de me tornar amigo desse gigante da MPB, de quem recebi um presente de valor inestimável, o livro de cordel A história dos Novos Baianos e outros versos, de autoria dele.

 


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postado em 30/01/2024 06:00 / atualizado em 30/01/2024 06:23
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