Drama social

Mercados exploram pouco o potencial de aliviar a fome

Conforme a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), são jogados fora 127 milhões de toneladas de alimentos em toda a América Latina. Só no Brasil, são 41 mil toneladas de alimentos que vão para o lixo todos os dias

13/09/2018 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Especial econômia desperdício de alimentos. CEASA. -  (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
13/09/2018 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Especial econômia desperdício de alimentos. CEASA. - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
postado em 31/01/2024 06:00

ALEXANDRE VASSERMAN, CEO da Infineat, startup que tem a missão de erradicar a fome e o desperdício de alimentos

Considera-se desperdício todo o tipo de perda relacionada à decisão de descartar algo que ainda tem valor e esse descarte desnecessário acontece com produtos voltados à alimentação. Conforme a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), são jogados fora 127 milhões de toneladas de alimentos em toda a América Latina. Só no Brasil, são 41 mil toneladas de alimentos que vão para o lixo todos os dias, deixando o país entre os que mais desperdiçam globalmente, com cerca de 30% de sua produção alimentar e prejuízos estimados em quase 46 bilhões de dólares por ano, ainda segundo a FAO. E os supermercados estão entre os principais geradores de desperdício de alimentos.

De acordo com dados divulgados em 2023 pela Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS), em conjunto com a NielsenIQ, o setor supermercadista é um dos mais fortes e representativos da economia brasileira. Em 2022, alcançou um faturamento de R$ 695,7 bilhões, correspondendo a cerca de 7,03% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, com quase 95 mil lojas em todo o Brasil. No que diz respeito ao desperdício de alimentos, os quase 95 mil supermercados do país enfrentam perdas equivalentes a R$ 7,6 bilhões em produtos bons para o consumo. Cerca de 81% são alimentos perecíveis como frutas, hortaliças, carnes e peixes.

A pesquisa da Associação Brasileira de Supermercados (Abras) ainda mostra que a eficiência operacional que engloba e é diretamente responsável pela prevenção das perdas, cresceu apenas 3% de um ano para o outro, passando de 12% em 2022 para 15% em 2023, afetando assim a eficácia do sistema de reaproveitamento de produtos bons para o consumo. Entretanto, o que se observa na abordagem da pesquisa é que esses dados de eficiência só consideram custos internos dos varejistas, pois ainda não há uma medida de impacto gerado ao meio ambiente, por exemplo.

As perdas e os desperdícios de alimentos representam um importante retrato da ineficiência dos sistemas alimentares. Historicamente, supermercados vivenciam, no dia a dia, um cenário de grande desperdício, em especial de alimentos (cuja validade está perto de expirar ou o produto perdeu a cor, teve algum tipo de machucado; mas ambos os casos, ainda estão perfeitos para o consumo). Muito embora o mundo esteja reconhecendo cada vez mais o problema e o setor supermercadista também, tendo como claro o ônus indissociável à operação, na prática, supermercadistas brasileiros não conseguem tangibilizar o descarte de alimentos como prejuízo no próprio negócio.

Sendo os supermercados um dos maiores responsáveis pela capilaridade do alimento e pela chegada até a mesa do consumidor final, é preciso entender de que forma esse setor está, de fato, investindo e criando programas de combate ao desperdício e, assim, contribuindo tanto para uma gestão processual inteligente, quanto efetivamente para alimentar a população brasileira em situação de insegurança alimentar. Embora existam programas que unem as pontas, o volume de alimentos jogados fora evidencia a falta de soluções completas.

Mesmo não existindo um caminho único para controlar o desperdício e para combater a fome, há quem esteja construindo produtos e serviços direcionados para resolver ambos os problemas em larga escala. É o caso de negócios de impacto socioambiental que conectam supermercados e indústrias de alimentos a entidades filantrópicas, reduzindo drasticamente o desperdício, enquanto, simultaneamente, afetam positivamente a diminuição da fome no país.

A tecnologia aliada à operação complexa do varejo permite auxiliar os varejistas nas boas práticas e nos processos do dia a dia, permitindo posicionamento ESG da empresa, gerando economia, além de atuar na linha de frente do combate ao desperdício, com soluções que favorecem o gerenciamento operacional dessa demanda, gerindo o caminho final correto do alimento de uma ponta a outra. Assim, pode-se contribuir diretamente para que os alimentos bons para o consumo cheguem àquelas pessoas de baixa renda e que sofrem de insegurança alimentar todos os dias, em grandes volumes — podendo provocar um impacto sem precedentes no país.

O combate ao desperdício é uma tarefa que deve ser cobrada por todos, mas existe uma responsabilidade ainda maior do setor supermercadista. Ao entenderem a oportunidade de resolverem o problema, poderão causar, individual e coletivamente, impacto em todas as frentes, inclusive financeiras, do setor. Mas, para isso, é importante encontrar quem pode ajudá-los a resolver essa questão — e existe quem o faça.

 


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