Atual campeão da Champions League, o Manchester City usa linha de três defensores. Pep Guardiola adota o sistema 3-2-4-1. Líder do Campeonato Italiano, a Internazionale, de Simone Inzaghi, adota o 3-5-2. Sensação da Europa, o Bayer Leverkusen caminha rumo o título inédito do Alemão sob a batuta de mestre Xabi Alonso no 3-4-2-1. O Sporting manda no Português trabalhado no 3-4-3 por Ruben Amorim. Não é coincidência o argentino Ramón Díaz usar linha de três no Vasco nem o português Abel Ferreira no Palmeiras. Ambos estão alinhados com a tendência global.
O dono da prancheta do elenco mais caro e forte do país resistiu ao modelo nos seis anos e meio na Seleção, e ainda não cogitou adicioná-lo ao repertório do Flamengo em quatro meses e 29 dias de mandato. Tite ostenta quatro dos melhores beques do Brasil: Fabrício Bruno, Léo Pereira, David Luiz e o recém-contratado Léo Ortiz.
Plantel de alto nível não pode renunciar a uma opção com linha de três defensores. A variação tática é necessária em tempos de alta tecnologia e inteligência artificial a serviço do futebol. A mesmice é castigada. Na Copa de 2018, Tite contava com Thiago Silva, Miranda, Marquinhos e Pedro Geromel. Em 2022, no Catar, dispunha de Marquinhos, Thiago Silva, Éder Militão e Bremer. Os laterais Danilo e Alex Sandro fazia essa função na Juventus. Nem assim virou alternativa. O truque fez falta nas eliminações contra Bélgica e Croácia, e ainda não é ferramenta do Flamengo.
Considero no mínimo curiosa a resistência do Tite ao que sabe pensar e executar tão bem. Uma das grandes obras autorais do treinador rubro-negro é a aquele Grêmio campeão da Copa do Brasil, em 2001, contra o Corinthians, de Vanderlei Luxemburgo, no Morumbi. À época, Tite surpreendeu o “pofexô”. Ele contava com dois zagueiros jovens e velozes — Marinho e Ânderson Polga — e um experiente: Mauro Galvão. A fórmula funcionou e o projetou.
O Grêmio não é a única obra autoral de Tite com três zagueiros. Em 2003, na primeira edição do Brasileirão da fórmula de pontos corridos, o São Caetano terminou a Série A em quarto lugar entre 24 times. Um feito e tanto à época! O Azulão era escalado com um trio de zagueiros zen: Dininho, Gustavo e Serginho. Sim, o Cruzeiro foi campeão, porém o time do ABC paulista teve a melhor defesa: 37 gols sofridos em 46 jogos.
Na Era Tite na Seleção, questionei a razão de o Brasil não dispor de linha de três no repertório, como Argentina (1986), Alemanha (1990) e Brasil (2002) nas respectivas conquistas da Copa do Mundo. “Fazer três zagueiros, não. Temos curto espaço de tempo”, respondeu. Agora, ele tem o dia a dia no Flamengo. Por que não ensaiar isso? Rossi; Fabrício Bruno, Léo Ortíz e Léo Pereira; Varela (Luiz Araújo), Pulgar, De la Cruz, Arrascaeta e Bruno Henrique (Ayrton Lucas, Viña ou Everton Cebolinha); Gabigol e Pedro? O caríssimo Flamengo tem material de sobra para se reinventar e entrar na moda.
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