Futebol

Brasileirão descobre Portugal

Os times do país estão assinando atestados de incompetência em série ao repatriar, principalmente dos países ibéricos, jogadores não descobertos ou ignorados no quintal de casa pelos olheiros de plantão

André Silva disputou, ontem, o terceiro jogo com a camisa tricolor. Saiu do banco de reservas para aliviar a tensão e abriu o caminho para a vitória -  (crédito: Nelson Almeida/AFP)
André Silva disputou, ontem, o terceiro jogo com a camisa tricolor. Saiu do banco de reservas para aliviar a tensão e abriu o caminho para a vitória - (crédito: Nelson Almeida/AFP)

Há um fenômeno curioso no futebol brasileiro. Os times do país estão assinando atestados de incompetência em série ao repatriar, principalmente dos países ibéricos, jogadores não descobertos ou ignorados no quintal de casa pelos olheiros de plantão. Não é um nem outro. São vários ex-ilustres desconhecidos retornando a times de ponta com status de salvadores da pátria.

Um dia desses, um são-paulino do condomínio puxou conversa comigo no elevador desejando saber quem é o “famoso” André Silva. O versátil centroavante chegou sob desconfiança e ganha espaço na formação titular tricolor. Iniciou a vitória contra o Barcelona de Guayaquil como ponta-direita.

André Silva faz parte daquela leva de jogadores sem oportunidade na esquina de casa.
Nasceu em Taboão da Serra (SP), passou pelo Atlético Diadema, passou despercebido pelo Internacional, aventurou-se na Ucrânia no elenco B do Shakhtar Donetsk e, finalmente, encontrou Porto Seguro na terra de Camões. Lá, conheceu o lado B do Rio Ave.

O modesto time lusitano topou fazer o que nem todo time brasileiro quer — e tem paciência. Desenvolveu André Silva. Ele deu pequeno salto do Rio Ave para o Arouca e conseguiu contrato com o Vitória de Guimarães, o último emprego antes do acerto com o São Paulo aos 26 anos de idade. A mobilidade o tornou concorrente de todos os jogadores de ataque no elenco. A Europa o ensinou a não limitar-se ao modo centroavante.

Quem era Hulk para o torcedor brasileiro antes da Copa do Mundo de 2014? Como santo de casa não faz milagre, o paraibano de Campina Grande Givanildo Vieira de Sousa não arrancou suspiros na base do São Paulo, jogou duas partidas pelo Vitória na Série A de 2004 contra Fluminense e Inter, e achou quem tratasse dele com carinho em... Portugal! A Seleção descobriu Hulk no Porto e o Brasil na Copa de 2014. Quem saiu como “zé ninguém” voltou para ser ídolo do Atlético-MG.

As histórias de Tiquinho Soares e de Diego Costa são semelhantes. O centroavante do Botafogo formou-se nas academias do Corinthians-AL e do América-RN, mas ganhou holofote no Porto antes de desembarcar cheio de pompa em General Severiano. O sergipano Diego Costa praticamente saiu da escolinha do Barcelona-SP para o futebol português. Evoluiu no Sporting Braga e no Penafiel. Não seduziu clubes brasileiros, mas encantou o Atlético de Madrid. Quando a Seleção viu o sucesso, ele estava naturalizado espanhol. Depois de passar por Atlético-MG e Botafogo, Diego Costa é candidato a novo queridinho da torcida do Grêmio.

André Silva, Hulk, Tiquinho Soares, Diego Costa e outros fazem história. Estão quebrando o preconceito de que jogadores de times de “segunda ou terceira linha”, principalmente de Portugal, não servem. Muito em breve teremos notícias de mais ex-anônimos reforçando times no Brasileirão. Rejeitaria um Firmino da vida no seu clube?

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postado em 27/04/2024 06:00
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