Artigo

Músicos dos pampas

Ao juntar roupas e agasalhos e levá-los a um local na Asa Norte que coleta doações para as vítimas da tragédia no Sul me veio à mente quão é importante a contribuição dos gaúchos para a MPB

Capa da nova versão de 'Para Lennon e McCartney' interpretada por Elis Regina -  (crédito: Reprodução/Trama)
Capa da nova versão de 'Para Lennon e McCartney' interpretada por Elis Regina - (crédito: Reprodução/Trama)

Ao juntar roupas e agasalhos e levá-los a um local na Asa Norte que coleta doações para as vítimas da tragédia no Rio Grande do Sul, provocada pela intempérie climática e a ação humana, me veio à mente o quão é importante a contribuição de artistas gaúchos para a música popular brasileira.

O primeiro de quem me lembrei foi Lupicínio Rodrigues, autor de Se acaso você chegasse, um dos primeiros sucessos de Elza Soares; Felicidade, gravado por Caetano Veloso; e Volta, interpretada magistralmente por Gal Costa, nos memoráveis LP e Show Índia. 

Lupi, como era chamado pelos mais próximos, inventor do que ficou conhecido como samba-dor-de-cotovelo, foi autor de outras músicas que se tornaram clássicos, ao serem gravados por Elis Regina (Cadeira vazia), Paulinho da Viola (Nervos de aço), e Nana Caymmi (Esses moços); além do hino do Grêmio, clube do qual era torcedor.

Logo em seguida, veio-me à mente inesquecível Elis Regina, a maior intérprete da MPB de todos os tempos, que tive o privilégio de ver ao vivo em dois espetáculos: Transversal do tempo, no auditório da OSPA  (Orquestra Sinfônica de Porto Alegre) em 1978, como parte do Festival Mercosul; e o Essa Mulher, aqui na cidade, no Cine Brasília.

Talento precoce, Renato Borghetti se apresentou em Brasília pela primeira vez ainda adolescente; e voltou outras vezes para tocar sua gaita de ponta na Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional, no Clube do Choro e em outros lugares. Certa vez, eu o levei para mostrar sua arte instrumental na Feira do Guará, onde causou um grande rebuliço.

Intérprete sofisticada, Adriana Calcanhotto esteve na capital por duas vezes: a primeira, num barzinho do Centro Comercial Gilberto Salomão; e a segunda, na Sala Villa-Lobos, encantando os espectadores com o canto bonito e comentários sobre seu ofício, recheados de muitas informações e ironia.

Aqui, também, mas no Ginásio Nelson, apreciei o som da banda Engenheiros do Hawaii, na década de 1980; e há dois anos Humberto Gessinger, soltando a voz em Era um garoto que como eu amava os Beatles e os Rolling Stones, Infinita Highway, O Papa é pop, Pra ser sincero e Refrão de um bolero.

São, igualmente, dignos representantes da música dos pampas, os cantores  Armandinho, Felipe Catto, Vitor Ramil, Vitor Kley, a dupla Kleiton e Kledir e as bandas Fresno, Nenhum de Nós, Almôndegas, Cachorro Grande, Bicho de Seda, Bidê e Balde, Os Replicantes, TNT e Ultraman.

Este artigo é dedicado ao querido amigo e companheiro de ofício Juarez Fonseca, que assina a coluna musical Paralelo 30 no jornal porto-alegrense Zero Hora, e um dos raros remanescentes da geração de jornalistas da qual faço parte, que se mantém em atividade.

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Ícone do whatsapp
Ícone do telegram

Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br

postado em 21/05/2024 06:00
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação